Começou nessa quinta-feira (10) a Copa das Aldeias, primeiro campeonato de Free Fire exclusivo entre as comunidades indígenas do Brasil. A competição conta com 48 equipes de tribos localizadas em diferentes pontos do país e é transmitida no canal da competição na NimoTV.
Segundo o Censo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), existem cerca de 305 etnias diferentes no Brasil, com um total aproximado de 817.963 indígenas. É fato que ainda existe muito preconceito enraizado quando falamos de uma cultura diferente da nossa, e isso não é diferente dentro do cenário de esportes eletrônicos.
Tendo um estereótipo ‘padrão’, a comunidade de esports ainda caminha a passos lentos para uma maior inclusão, mas pouco se aborda o povo indígena. Por isso, Igor resolveu fazer esse campeonato, pois quer mostrar a todos que o povo indígena também joga e tão bem (ou mais) do que qualquer pessoa.
Idealizada por Igor “CaiPorTerra”, streamer e narrador de Free Fire, a Copa conta com a ajuda de Werá Alexandre, cineasta Guarani, e Everton D’Gomeza, gamer indígena Tupi-guarani. Os três primeiros colocados dividem um prêmio total de R$1.200.
“Eu apresentei o projeto para o pessoal da NimoTV e eles abraçaram a ideia. Mostrei para eles um vídeo que os meninos fizeram: era eu narrando um campeonato com indígenas assistindo e jogando na própria aldeia deles…”, comenta Igor. “Você vê um vídeo assim e pergunta ‘pô, mas de onde vem a internet?’ ou ‘eles conseguem jogar lá?’. Isso gera uma curiosidade, né? Por isso a NimoTV gostou bastante da ideia do campeonato”.
Copa das Aldeias conta com 48 equipes exclusivamente indígenas, com integrantes das aldeias Yakã Porã, Bracuih, Tarumã, Jaexa Porã, Tekoa Vy’a, Itaoca, Konda, Para Rõke, dentre outras; em se tratando de diversidade de etnias, podemos citar Kaingag, Guarani, Guarani Mbya e Karaja.
“Nós queríamos ver a reação do povo indígena primeiro, quando começamos a pensar na Copa. Não imaginávamos que seria tão bem recebido. Logo quando anunciamos nas redes sociais, foi alfo que cresceu bastante, com muitas inscrições. Como esse é o primeiro evento, resolvemos seguir com 48 equipes, mas sabemos agora que teríamos - aproximadamente - 300 equipes inscritas ao todo”, confessa Igor.
O interesse da comunidade indígena com o campeonato só mostra o quão carente esse povo é em relação à campeonatos e eventos nos quais possam participar. É necessário que as empresas comecem a abrir os olhos para essa problemática, que elas entreguem mais conteúdo e formas de incluir as minorias na comunidade.
UM JOGO DEMOCRÁTICO
“Escolhemos o Free Fire por que é o jogo mais inclusivo e fácil que existe, né? É muito mais fácil alguém ter um celular que roda o jogo do que um computador gamer”, sinaliza Igor.
Não é a primeira vez que o Free Fire ganha as honras de jogo mais inclusivo e com certeza não será a última. Por ser um jogo leve e que roda em praticamente todo celular, ele traz diversas possibilidades de campeonatos em, praticamente, qualquer lugar.
“Hoje, o Free Fire nos proporciona o poder de mostrar para as pessoas que o povo indígena também joga e também tá ali, entende?”, explica Igor. “A minha ideia é que chegue em todo o Brasil, e que a gente possa mexer com todo o cenário de esportes eletrônicos também, para provocar mesmo. Há tão poucas pessoas fora do estereótipo padrão gamer em campeonatos oficiais, né? Não é porque eles não são bons, é mais falta de oportunidade”.
Igor também menciona que gostaria que o povo indígena pudesse mostrar para o mundo quem eles são, qual a origem deles, sua cultura, mostrar que são capazes. Apesar de ser um campeonato de videogame, há o foco na questão cultural. “Muitas pessoas não sabem quantas comunidades indígenas temos no Brasil, não sabem quais etnias existem, não sabem nada da cultura deles… isso também é uma aula para todo mundo em relação a quem eles são”.
É esperado que a presença de indígenas no cenário competitivo de esportes eletrônicos quebre alguns paradigmas da sociedade e mostre que não importa quem você é, quanto você pesa, sua cor de pele, orientação sexual ou qual a sua origem, o importante é que haja oportunidades para todos.
“O grande diferencial é mostrar a cultura indígena. A gente já tem vários campeonatos rolando por aí, é claro, mas nunca foi feito um exclusivo com a comunidade indígena, com o apoio de um patrocinador bacana, que é a NimoTV. É um campeonato inédito e muito necessário”, reforça Igor.
JUNTANDO AS CAUSAS
Além de ser totalmente indígena, o campeonato contará com elencos mistas, ou seja, meninos e meninas jogarão entre si, sem preconceito de gênero. O campeonato tem também times exclusivamente femininos.
Igor menciona que “está bem claro para o pessoal do projeto que vamos focar bastante nas meninas, em dar uma atenção maior para elas. É muito bacana vê-las jogando e acho que é preciso um incentivo maior”. A Copa das Aldeias acaba juntando duas causas e abraça a luta de igualdade de gênero .
Para os jogadores, é uma grande emoção participar de um campeonato como a Copa das Aldeias e entrar em um cenário tão pouco conhecido por eles. Werá Alexandre, cineasta Guarani e integrante da equipe NTS - Nativos, comentou que “nós indígenas - a maioria - já jogamos Free Fire já há uns 2 anos, e temos noção do quão importante vai ser esse campeonato para a nossa comunidade. É muito emocionante poder participar disso e começar a entrar no cenário competitivo, porque sabemos que isso pode chamar a atenção para gente”.
Entre a comunidade existe uma competitividade saudável. Alexandre fala que “da minha etnia, Guarani, ficamos todos concentrados no Sul e Sudeste do país, de Rio Grande do Sul ao Espírito Santo. A gente se conhece e troca ideia sempre sobre o jogo, fizemos treinos entre a gente e outras etnias também.”
Julia Macalossi é apaixonada por games e esports e colunista no ESPN Esports Brasil. Siga-a no Twitter e Instagram.