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Como o Brasil construiu uma seleção de prata no beisebol

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'GabiStrike', o Gabriel Barbosa do beisebol, conta como saiu do interior de São Paulo até a seleção brasileira no Pan (2:00)

Jogador brasileiro de 22 anos concedeu uma entrevista exclusiva para a ESPN durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos (2:00)

A bola saiu da mão do arremessador brasileiro Eric Pardinho. Jhonny Santos, um dos rebatedores mais quentes do campeonato, percebe que ela está ao alcance. Ele gira o bastão com agressividade para a rebatida. Se ele tem sucesso, dá ao Panamá o empate no último suspiro e ainda deixa a porta aberta para uma virada que parecia improvável dez minutos antes. O bastão vai se aproximando quando, de repente, a bola faz uma curva para fora e deixa Santos perdido. O panamenho se estica para conseguir um mínimo de contato, mas foi totalmente enganado pelo brasileiro. Strike. Strike três. Eliminação. Fim de jogo. Brasil 5, Panamá 3.

Teoricamente, o Brasil ainda teria de esperar algumas horas para saber se estava garantido ou não na final do torneio de beisebol dos Jogos Pan-Americanos de Santiago. O resultado necessário no jogo do fim da tarde, vitória da Colômbia sobre o México, aconteceu. Mas a sensação foi de que a medalha já era realidade naquele arremesso de Pardinho sobre Santos. A seleção brasileira tinha quatro vitórias em quatro jogos, enfrentando duas potências mundiais da modalidade (Venezuela e Cuba) e dois países com muito mais tradição (Colômbia e Panamá). A medalha soava como consequência natural – e merecida – dessa trajetória. Uma trajetória que começou a ser desenhada dez meses antes.

A medalha de prata (o Brasil perdeu a final para a Colômbia) surpreendeu o mundo do beisebol, mas ela não foi obra do acaso, um golpe de sorte, a consequência de uma semana iluminada. O vice-campeonato no Pan foi resultado de um trabalho que envolveu dezenas de pessoas, entre jogadores e treinadores, para formar a seleção mais preparada que o Brasil já teve em muitos anos para a disputa de um torneio.

A classificação para o Pan veio em julho de 2022, com a conquista do Sul-Americano da modalidade. Isso permitiu à comissão técnica antecipar bastante o projeto para o Pan. O início foi em dezembro do ano passado, após a Taça Brasil, principal torneio do País. Foi a fase de planejamento e cronograma de trabalho, além da definição de uma lista inicial de cerca de 60 jogadores. Os treinos efetivamente começaram em março com os atletas que atuam no Brasil.

Aí é preciso entender como funciona o calendário de competição do beisebol. As ligas de Estados Unidos, Japão e México começam em março ou abril e terminam entre agosto e outubro. Os brasileiros que atuam nesses países só poderiam se apresentar na reta final da preparação. Outras ligas da América Latina, como República Dominicana, Venezuela e Panamá, só começam entre outubro e novembro e a liberação para jogar o Pan teria de ser considerada caso a caso. Quem atua no beisebol nacional não tem liga permanente. Os torneios realizados no Brasil são amadores, e os jogadores precisam conciliar treino com outro trabalho durante a semana e disputar as partidas nos fins de semana. É com esse último grupo que o trabalho era mais intenso.

Como muitos têm outras atividades, os treinos presenciais só eram realizados aos fins de semana. Nos dias úteis, eles voltavam às suas cidades e tinham de trabalhar. Mas esses dias não podiam ser desperdiçados na preparação. A comissão técnica entregava uma programação de treinos para eles cumprirem em suas cidades durante a semana.

O ritmo dos treinos e a quantidade de reuniões do grupo foi se intensificando a partir de julho. “A intenção de começar a preparação cedo foi de deixar os atletas amadores no nível dos profissionais”, contou Ramon Ito, técnico da seleção. “Quando os profissionais foram chegando para se juntar ao grupo, não havia tanta diferença em relação ao nível técnico e a preocupação se tornou encaixar os profissionais no grupo que já estava bem unido.”

Questão de estilo (de jogo)

Esses treinos foram feitos de forma crescente, para desenvolvimento técnico e, com o tempo, transportar isso para situações de jogo. Nos primeiros meses, o dia era dividido em repetição de fundamentos na manhã e alguns jogos e simulações de jogadas. Nessa fase da preparação, não apenas os atletas que atuam no Brasil estavam se preparando para um nível de competição mais alto do que estavam acostumados, mas a própria seleção estava definindo o estilo de jogo que praticaria.

Nesse aspecto, é preciso entender o que são os jogadores amadores. Muitos têm outros empregos até fora do esporte, mas isso não significa que sejam curiosos e entusiastas que resolveram jogar beisebol um dia e já tinham espaço na seleção. Há décadas, o Brasil tem dezenas de clubes com departamento de beisebol. Essas equipes geralmente foram fundadas pela comunidade japonesa, e acabam se concentrando em regiões com mais presença de nipo-brasileiros, principalmente São Paulo e Paraná, com presença também em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Pará.

Quase todos os jogadores de beisebol do Brasil surgiram dentro desses clubes, recebendo treinamento especializado desde a base – a menor categoria, o t-bol, é disputada por crianças a partir de 7 anos. Com o tempo, alguns jogadores chamam a atenção de olheiros internacionais e são contratados por time profissionais. Outros conseguem bolsa como atleta para defender universidades nos Estados Unidos ou no Japão e podem, eventualmente, se tornarem profissionais depois. Os amadores que restam são os que não tiveram essas oportunidades ou já atuaram profissionalmente, mas voltaram ao Brasil depois de alguns anos no exterior.

O defensor interno Lucas Sakay é um desses casos. Ele atualmente é atleta do time principal e treinador da base do Anhanguera (clube de Santana do Parnaíba, cidade na Grande São Paulo). Mas ele começou a jogar aos 7 anos e, entre 2019 e 22, atuou no beisebol universitário dos Estados Unidos. Outro atleta amador do Brasil que foi para o exterior e voltou é o catcher Salomon Koba. Hoje, ele concilia os jogos e treinos com a carreira de dentista. Mas ele já defendeu o Brasil em Mundiais sub-15 e sub-18 e já atuou em uma liga no Japão. O também catcher Raphael Barbosa, conhecido como Marrom, e o defensor interno Osvaldo Carvalho não tiveram chance de jogar fora do País, mas também jogam beisebol desde a base.

O fato de reunir jogadores com trajetórias tão diferentes faz do beisebol brasileiro algo único no mundo. Como o esporte se organizou no País a partir da comunidade japonesa, o estilo de jogo teve muita influência asiática. Mais do que valorizar rebatidas de força, como é comum nos EUA e na América Latina, a prioridade são rebatidas mais curtas e o jogo coletivo. No entanto, nas últimas décadas houve um grande intercâmbio entre técnicos brasileiros e cubanos, incorporando influências caribenhas nos treinos. Soma-se a isso o fato de dezenas de jogadores brasileiros terem jogado nos Estados Unidos nas últimas décadas, trazendo também o modo de trabalho dos americanos.

Essa mistura deu ao Brasil a capacidade de misturar diferentes formas de jogar. Na preparação para o Pan, os treinamentos também visavam definir como a seleção trabalharia para encaixar seu jogo diante de adversários latino-americanos muito mais tradicionais. No final, a preferência foi pelo estilo que se aproximasse mais da origem do beisebol brasileiro, o jogo herdado dos japoneses.

“Como não temos um time com rebatedores com potência, focamos no small ball”, afirmou Tiago Magalhães, técnico de rebatedores da seleção brasileira no Pan. “Small ball” é o jogo curto, que se baseia em rebatidas simples e busca pela pontuação avançando base a base, com um jogador ajudando a impulsionar o que estava a sua frente. “Long ball” é o jogo que prioriza rebatidas longas, como home runs, algo mais comum nas Américas.

Adotar esse sistema não é apenas uma decisão que se decreta. É preciso muita disciplina tática dos rebatedores, pois é fácil um ou outro acabar caindo na tentação de levar a glória de decidir um jogo com um home run e deixar a estratégia combinada de lado. “O sucesso veio porque cada um soube qual era o seu papel na equipe e ninguém tentou fazer algo além de suas características, tudo o que foi pedido ofensivo eles executaram”, comentou Magalhães, que também trabalha como scout do Tampa Bay Rays no Brasil. “Treinamos todas as jogadas de como mover corredores, como bunt e hit-and-run, e cada jogador fazia um diferente de acordo com sua característica.”

Esse é o trabalho de simulação de situações de jogo, e ganhou ênfase nos últimos meses da preparação para o Pan, sendo realizado até durante o torneio. Além disso, a reta final ainda teve a chegada de jogadores que atuam no exterior e o aumento da intensidade das atividades. “Pudemos nos acostumar com arremessos rápidos e de altíssimo nível, que nos deixaram mais preparados para o que íamos enfrentar no Pan”, explicou Lucas Sakay.

O principal motivo da escolha desse estilo foi a característica dos jogadores brasileiros, mas ela se encaixou bem com a estrutura preparada pelos chilenos para o beisebol do Pan. Como o estádio do Parque Bicentenário em Santiago tinha campo sintético, a bola corria mais nas rebatidas rasteiras, ajudando o trabalho de small ball.

Os profissionais

Os meses de treino no Brasil ajudou a elevar o nível dos jogadores amadores, mas era preciso trabalhar para atrair o máximo possível de profissionais que atuam no exterior. Yan Gomes, com carreira consolidada na MLB e fazendo ótima temporada pelo Chicago Cubs, estava descartado. Havia alguma esperança de trazer Thyago Vieira, do Milwaukee Brewers, mas as chances se esgotaram quando o arremessador teve uma lesão no final da temporada e, para reforçar, seu time se classificou aos playoffs. Leonardo Reginatto, ídolo em clubes mexicanos e venezuelanos, já estava comprometido com os Tiburones de La Guaira, da Venezuela, e não poderia disputar.

Ainda assim, foi possível juntar um grupo competitivo. André Rienzo seria um dos grandes nomes. Paulo Orlando, campeão da MLB pelo Kansas City Royals em 2015, estava recuperado de uma lesão – que o fez jogar no sacrifício nas Eliminatórias do Mundial, em 2022 – e veio dos Estados Unidos (ainda atua em uma liga independente). O veterano arremessador Murilo Gouvea mostrou nos treinos que ainda tinha velocidade no braço e poderia ser uma figura importante.

Essa base já defendeu o Brasil em diversas competições internacionais, inclusive no World Baseball Classic (a Copa do Mundo da modalidade). Outros jogadores dessa geração, como Fabio Murakami, capitão da equipe, Jean Tomé, Daniel Missaki, Oscar Nakaoshi, Lucas Rojo e Pedro Ivo Okuda também estavam no elenco. Todos esses já jogaram profissionalmente nos Estados Unidos, na América Latina ou no Japão. Felipe Natel, outro nome importante na última década, ainda joga na liga industrial japonesa (oficialmente amadora, mas semi-profissional na prática).

Para complementar o grupo, a seleção conseguiu reunir algumas promessas que atuaram nas ligas menores americanas na última temporada, como o primeira base Victor Coutinho e os arremessadores Eric Pardinho e Gabriel Barbosa, assim como Enzo Sawayama, companheiro de Natel no Yamaha, da liga industrial japonesa. Em alguns casos, os veteranos também ajudaram na preparação dos mais jovens.

Coutinho foi um exemplo. Ele atuou nas ligas menores do Houston Astros em 2023, mas foi dispensado no meio da temporada. Seu potencial é inegável, ainda mais como um dos principais rebatedores de força disponíveis no elenco. Mas era preciso recuperar o ritmo e, principalmente, a confiança. “Graças a Deus apareceu uma pessoa muito importa na minha vida que conseguiu me levantar e mostrar o potencial que eu tenho”, contou, referindo-se a Rienzo. “Ele se propôs a me ajudar e me reerguer outra vez. Foram dois ou três meses indo para Atibaia treinar com ele, com treinos específicos para minhas debilidades e aperfeiçoamento das minhas riquezas. Foram esses treinos que permitiram que eu tivesse um papel importante no Pan.”

Coutinho impulsionou as duas corridas na nona entrada que deram a vitória ao Brasil sobre a Colômbia na primeira fase. No jogo contra o Panamá, que garantiu a vaga na final, o primeira base abriu o marcador com um home run.

Jogo a jogo

Com o grupo formado, dava para prever uma participação competitiva do Brasil. Com exceção do fraco Chile, que só teve uma vaga por ser o país-sede, as outras seleções representam países em que o beisebol é bastante popular e tem liga profissional. Mesmo sem contar com a força máxima – o que significaria usar jogadores da MLB –, elas podem montar suas equipes a partir de centenas de jogadores que atuam em alto nível o ano inteiro. Ainda assim, o elenco brasileiro já tinha mostrado capacidade de competir no nível em que o Pan se desenhava. A partir daí, era saber trabalhar fase a fase, jogo a jogo, entrada a entrada, corrida a corrida, base a base, arremesso a arremesso.

O torneio de beisebol do Pan tinha uma peculiaridade: as partidas teriam apenas sete entradas. Assim, o planejamento do uso de arremessadores poderia ser bastante diferente. E o Brasil tirou proveito disso para fazer uma estreia de impacto contra a Venezuela, uma das favoritas ao ouro. A partida ficou a cargo de Felipe Natel, o Pelé, nas quatro entradas iniciais e Oscar Nakaoshi faria o resto. “O Pelé tem bom controle, arremessa slider e bola rápida com efeito, a sinker. O Nakaoshi também tem boas bolas de efeito, o slider e o changeup”, explicou Thiago Caldeira, técnico de arremessadores da seleção brasileira e ele também um brasileiro que passou pelo beisebol japonês na época de jogador, atuando pela Universidade de Hakuoh.

Com essa estratégia, dois arremessadores formados no Japão – e um destro e um canhoto, só para complicar um pouco mais – poderiam distribuir bolas que tinham muito mais controle e efeito do que velocidade pura, como muitas vezes ocorre nas Américas. Isso poderia desestruturar o forte ataque venezuelano e deixar o placar baixo.

Funcionou, e o Brasil venceu por 3 a 1.

Contra a Colômbia, a abordagem dos arremessadores seria mais convencional: um abridor para a primeira parte do jogo, e um substituto fazendo cada uma das entradas finais, no máximo duas. O Brasil sofreu mais no montinho, e aí foi a vez de o ataque com base no jogo curto funcionar. Os arremessadores colombianos não conseguiam evitar que os brasileiros fizessem contato com a bola (foram 10 rebatidas) e a defesa, pressionada, empilhava erros (foram quatro). Em um jogo maluco, o Brasil venceu por 8 a 7 na nona entrada.

O terceiro jogo poderia garantir uma vaga no quadrangular semifinal, mas o adversário era o mais ameaçador de todo o torneio. Cuba não apenas é o maior vencedor do beisebol nos Jogos Pan-Americanos, como é a seleção que levou o mais perto de sua força máxima para Santiago. Para se ter uma ideia, 12 dos 24 jogadores do elenco cubano haviam disputado o Mundial em março passado. E, disputando contra as principais estrelas do mundo, os caribenhos foram até as semifinais.

Os cinco dias que separaram a estreia contra a Venezuela da partida contra Cuba ajudaram. O Brasil pode usar novamente seu principal abridor de estilo japonês: Pelé. O arremessador calou o ataque cubano por quase cinco entradas, deixando Rienzo (experiente para garantir quase duas entradas diante de um adversário mais forte e rodado) e Sawayama (outro braço com formação asiática). Para finalizar o jogo, com a Seleção já vencendo por 4 a 1, entrou a nova arma que foi preparada para o torneio, Eric Pardinho.

O arremessador formado em Bastos, interior de São Paulo, surgiu como uma das principais promessas do Brasil nos últimos anos. Foi uma das atrações nas Eliminatórias do Mundial de 2016, arremessando bolas rápidas a 94 milhas/hora (151,3 km/h) com apenas 15 anos. No ano seguinte, assinou um contrato com o Toronto Blue Jays com bônus de US$ 1,4 milhões.

Pardinho foi preparado para ser um abridor, que inicia o jogo e faz várias entradas. Mas algumas lesões e um desempenho instável fez que os Blue Jays decidissem, neste ano, mudá-lo de função. Defendendo o Vancouver Canadians, equipe de ligas menores do Toronto, ele passou a entrar no final das partidas. A mudança surtiu efeito, e o desempenho do brasileiro cresceu no novo papel. Como o principal fechador do Brasil, Thyago Vieira, não foi ao Pan, Pardinho surgiu como a principal opção.

O arremessador de apenas 22 anos cedeu uma corrida, mas fez as eliminações necessárias para fechar o jogo contra Cuba e garantir a classificação brasileira.

A classificação já era histórica, mas ficou claro que a final era uma meta atingível. Para isso, seria preciso vencer o Panamá, que surpreendeu ao bater República Dominicana e México para ficar com a primeira posição do outro grupo.

No ataque, a estratégia continuava ser sobrecarregar a defesa adversária com bolas curtas e cansar os arremessadores com as entradas longas. Para os arremessadores, o Brasil recorreu a dois nomes que já eram conhecidos – e respeitados – pelos panamenhos. Em 2012, a seleção brasileira conseguiu sua única classificação para o World Baseball Classic ao vencer duas vezes o Panamá nas Eliminatórias, disputadas precisamente na Cidade do Panamá.

Rienzo e Murilo Gouvea eram dois dois principais arremessadores brasileiros naquele elenco, e foram fundamentais para dominar os rebatedores adversários. As vitórias foram apertadas, mas os placares de 3 a 2 e 1 a 0 expõem a dificuldade do ataque panamenho lidar com os arremessadores brasileiros.

No Pan, Gouvea e Rienzo entregaram cinco entradas com apenas uma corrida cedida. Nakaoshi fez uma sexta entrada limpa e ficou para a sétima e última. O Brasil abriu 5 a 1 na primeira parte e a vitória estava praticamente assegurada. Mas Nakaoshi cedeu uma rebatida dupla e um home run. Pardinho foi acionado para fechar o jogo.

O Panamá conseguiu duas rebatidas simples e colocou corredores na segunda e na terceira base com dois eliminados. Jhonny Santos foi ao bastão. Uma eliminação e o Brasil tinha a vitória. Uma rebatida simples poderia empatar a partida. Um home run dava a vitória aos panamenhos. Neste momento, ter colocado Pardinho para fazer, no Pan, o que fez na temporada na América do Norte fez diferença.

Em 2023, o Vancouver Canadians foi o campeão de sua liga. O brasileiro foi acionado em dois dos cinco jogos, incluindo a penúltima entrada da partida que assegurou o título, sem ceder corrida nenhuma. A pressão de entrar em jogos de playoff ajudaram a ter o sangue frio para encarar aquele momento pouco mais de um mês depois, com a camisa do Brasil no Pan.

“A experiência de jogar a final influenciou muito o desempenho no Pan. Eu estava bem focado naquele duelo final contra o Panamá, sabia que não era uma situação fácil. Mas eu já estava pensando que seria assim ainda quando estava aquecendo e acreditei no meu potencial, sabia que conseguiria sair daquela situação”, afirmou.

Com a vaga na final assegurada, a partida contra o México foi um amistoso de luxo. Nem os mexicanos disputavam algo ali, pois não tinham mais chance de chegar à decisão. Desse modo, o Brasil colocou em campo vários jogadores que tiveram menos oportunidades ao longo da campanha e tentou poupar ao máximo os arremessadores que estavam nos planos para a disputa do ouro. Os mexicanos venceram por 5 a 1, mas isso nem impediu que a Seleção terminasse as duas fases com a melhor campanha do Pan.

Na decisão, em novo encontro contra a Colômbia, a estratégia era deixar Natel novamente por várias entradas, com Nakaoshi, Rienzo, Pardinho, Daniel Missaki, Gouvea e Gabriel Barbosa como opções para a reta final da partida. No entanto, o ataque colombiano estava uma tarde iluminada e teve uma explosão ofensiva. O Brasil conseguiu equilibrar nas primeiras três entradas, perdendo por apenas 2 a 1. Mas depois a diferença foi aumentando. A Seleção até teve chances na quarta e na sexta entradas, mas a Colômbia também estava arremessando bem e conseguia as eliminações até o 9 a 1 final

O ouro não veio, mas a prata já foi histórica. Foi a maior conquista da seleção brasileira de beisebol em um torneio adulto. Uma medalha que trouxe uma repercussão inédita ao beisebol nacional, com boa audiência nas transmissões das partidas pelo YouTube e muitas reportagens na imprensa sobre a campanha e os jogadores.

A Seleção virou uma espécie de “xodó” da torcida na primeira semana do Pan de Santiago, e isso não veio de graça. Os jogos duraram uma semana, mas a campanha toda durou dez meses, das primeiras reuniões até o último strike no jogo contra o Panamá. Foi nesse período que o beisebol brasileiro se mobilizou de forma inédita para aproveitar seu próprio potencial, enfatizando seu estilo de jogo único e a mescla de culturas de seus jogadores, sejam amadores, sejam profissionais.

Um potencial que boa parte do público só conheceu agora, mas essa geração já trouxe muitos feitos inéditos. Ela dá continuidade a uma evolução, que vinha do título mundial sub-15 de 1993 e à sétima posição no antigo Campeonato Mundial em 2003, e faz o Brasil participar do Mundial profissional em 2013, ter seus primeiros representantes na MLB, seus primeiros campeões da MLB, seu primeiro representante em um All-Star Game de uma grande liga dos Estados Unidos, um recordista de ERA no México, um recordista de entradas sem ceder corrida no Japão, um arremessador creditado com a vitória no All-Star Game da liga japonesa. Agora dá para resumir tudo o que o beisebol nacional fez nos últimos 15 anos com uma expressão que surgiu no vôlei: é uma Geração de Prata.