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Peneira e olheiro virtual: Aplicativo vira alternativa para jovens engatarem carreira no futebol e acharem clubes

Apesar dos 16 anos de vida e cinco na base do Fortaleza, o zagueiro Juan não hesitou para aderir à plataforma que pode abrir portas no futebol. A motivação surgiu especialmente após os amigos Talison e Yuri Aguiar arrumaram uma equipe durante a fase aguda da pandemia de COVID-19 na Europa. Eles foram para o Dardana Kamenice, do Kosovo.

Já são seis meses que Juan criou um perfil no “DreamStock”. Lá, ele se apresenta como um jogador com "destaque no cabeceio, manejo de bola, desarme e passe", além de, fisicamente, apresentar "resistência, coordenação, impulsão e agilidade".

“Eu conheci o aplicativo por meio do meu empresário e depois vi o Yuri e o Talison, que estavam sem clube, arrumarem emprego bem na pandemia. Achei interessante. Você adiciona sua altura, seu peso, diz o que procura e publica vídeos seus. Os amigos curtem, compartilham. Tem muitos olheiros e ficamos sabendo também de peneiras que são abertas”, diz Juan à reportagem.

É um caminho diferente ao tradicional e do qual o zagueiro já provou em sua curta carreira. Natural de Fortaleza, ele jogava pelo Ferroviário. “Com 11 anos, eu disputei um torneio sub-13 e um olheiro me viu e me convidou para o Fortaleza”.

O aplicativo que ajudou os amigos de Juan (Yuri Aguiar, da base do Vasco, tem 22 anos e Talison, da base do Fortaleza, 21) existe desde julho de 2018 e se deve a dois brasileiros: Marcelo Matsunaga, 36, o fundador, e André Sudo, 38, diretor estratégico.

A inspiração de Matsunaga veio de uma carreira frustrada como jogador. “Fui criado no Japão desde os sete anos. Até o colegial, eu jogava em uma das escolas fortes no futebol, em Shizuoka. O ex-capitão da seleção japonesa, Hasebe, da mesma idade, era rival de escola. Depois de formado, atuei em um clube, porém devido a lesão, tive que abandonar a carreira”.

“Na época, participei de várias peneiras, mas já naquele período não achava que elas eram eficientes. Até pelo custo que geravam para os atletas, que precisam se locomover. Com o passar do tempo, após a experiência adquirida na área de sistemas e também com o desenvolvimento da internet e celulares, pensei em uma maneira de aproximar os atletas com os clubes e desenvolvi o aplicativo”.

O investimento feito na plataforma em dois anos corresponde a 800 mil dólares (na cotação atual, R$ 4,2 milhões). O uso do aplicativo, que pode ser baixado pela loja online do aparelho celular, é gratuito. O retorno para os criadores vêm de outra forma.

“Pelas intermediações com os clubes do exterior, propagandas dentro da plataforma etc.”, diz Matsunaga, que citou um total de 190 mil usuários cadastrados no aplicativo até o dia desta entrevista.

“O usuário contará com várias seletivas dentro do aplicativo, basta ele analisar as condições e se candidatar. Cada demanda é muito peculiar. Posso citar, como exemplo, uma recente para jogar no Japão. [A busca foi por um] Centroavante que jogue no sistema 4-4-2 ou 3-4-3, acima de 17 anos, mas que complete 18 anos até janeiro de 2021, com salário de 50 mil dólares por temporada”.

O aplicativo não é restrito a idade ou mesmo a gênero. Tanto que, além de Yuri Aguitar e Talison, os responsáveis pelo “DreamStock” citam duas mulheres entre os casos de sucesso nesses dois anos de funcionamento.

A goleira Alice, destaque do Red Bull e da seleção sub-20, além da zagueira Isabelle, que defende a Ferroviária e a seleção sub-17, conseguiram deslanchar a carreira após se cadastrarem no aplicativo, segundo os donos.

Mas, por ser relativamente novo, o aplicativo ainda busca visibilidade. A maioria dos inscritos é de jovens sonhadores ou jogadores de base. André Sudo explica que, além de buscar mais usuários, eles monitoram o destino dos que mudam de vida.

“Estamos na fase de crescimento, focados na aquisição de usuários. Isso trará mais candidatos para os clubes, e consequentemente vai aumentar o valor do nosso serviço. Com um maior volume de usuários vamos conseguir criar renda de marketing, e nas transações de atletas também. Nosso target é de possuir um milhão de active users nos próximos 12 meses”, diz.

“[Por causa dos] atletas que estão em clubes e não conseguiram jogar tivemos certo impacto negativo [durante a pandemia]. Porém, está acontecendo uma grande mudança. Muitos estão perdendo contrato, e um grande volume está entrando na nossa plataforma. A variedade de perfis está aumentando e estamos podendo apresentar nomes de alto potencial para clubes da Europa. Acredito que vamos fechar aproximadamente duas dúzias de transferências para a Europa nesta janela de julho agosto”, afirma Sudo.

A expectativa da dupla é que o aplicativo venha a ser o futuro do mercado no futebol. Já a outra ponta, isto é, aquela formada por garotos e garotas que sonham em jogar futebol a visão é que a mudança seja imediata.

“Pra quem foi dispensado nessa pandemia ou quer a primeira oportunidade, acho que vai ajudar muito”, diz Juan.