Nesta quinta-feira começam as disputas dos X-Games de Minneapolis. Na busca pelo fim de um jejum de 13 anos sem um skatista brasileiro no lugar mais alto do pódio na modalidade Vertical, uma nova geração se apresenta para se unir aos atletas já consagrados.
De Curitiba, três garotos embarcam sonhando em - literalmente - voar alto nas pistas. Augusto Akio, o Japinha, tem apenas 19 anos, mas já pode se considerar experiente, pois vai para seu segundo X-Games, depois de ficar a uma posição da final no ano passado.
Junto com ele viaja Luigi Cini, de 17, que vive a expectativa de sua estreia na tradicional competição de esportes radicais. O terceiro nome, ainda precisará do acompanhamento dos pais por muito tempo.
Gui Khury, de apenas 10 anos, já tem no currículo um feito e tanto para chegar com moral: ele é o mais novo skatista da história a ter completado um 900, manobra eternizada pela lenda Tony Hawk.
O trio ganhou elogios do consagrado Rony Gomes, campeão mundial do skate vertical em 2013, e que vê nos jovens talentos a amostra de que a modalidade tem futuro, mesmo fora do programa dos Jogos Olímpicos.
“Estou acompanhando essa molecada que tá vindo de Curitiba, muito forte no vertical, eles andam sempre juntos, tanto o Luigi, quanto o Japinha, Gui Khury. Em SP também tem uma geração nova. Acabei de voltar de um campeonato mundial em Barcelona e o nível estava altíssimo, com pessoas de todas as idades”, disse Rony.
“Eu acho que essa molecada de Curitiba está vindo com tudo e vai mostrar um forte skate”, completou.
O COMEÇO DO CAMINHO
“Um primo meu, que hoje tem uns 20 e poucos anos, começou a andar de skate quando era criança, e o meu pai jogou fora o skate dele. Quem ia imaginar que o filho dele ia estar nos X-Games”, disse Japinha.
Se o pai não gostava muito da ideia, o filho se apaixonou pelo skate logo que viu pela primeira vez pela televisão.
“Pedi um skate de natal, comecei a ir na pista do Ambiental, aqui em Curitiba, conheci uma galera, me conectando com o skate. Agora não tem mais como soltar”, disse Akio.
Luigi também conheceu o skate pela televisão, assistindo justamente os X-Games, mas “apurou” a paixão jogando videogame. “Depois eu também vi no jogo do Tony Hawk, no Tony Hawk Pro Skater, acho que era o 3 que eu tinha. E eu via muito o Tony Hawk na TV e no Youtube, aí eu comecei a pesquisar vídeos. E desde que eu vi eu fiquei muito impressionado e quando eu comecei a andar não teve outra. Eu me apaixonei pela parada mesmo”, lembrou.
Já Khury não teve problemas com o pai. Pelo contrário. Ricardo Khury, pai do atleta, conta que sempre gostou de surfar e andar de skate e comprou um “brinquedo” para o filho, que começou a andar aos 4 anos. Pouco depois, eles se mudaram para a Califórnia, e aí veio o incentivo de todos ao redor.
“Eles falavam ‘pô, vamos colocar ele na escola do YMCA. Todos aprenderam a andar aqui, todos os profissionais’. Aí eu e minha irmã, Rafaela, fomos lá. Depois de uma semana ela caiu de bunda e não foi mais andar de skate. Mas aí eu fui gostando e gostando e até peguei as aulas dela. Aí com cinco anos eu dropei no meu primeiro half no YMCA”, contou Gui.
PLANOS PARA MINNEAPOLIS
“Eu tô tentando fazer um 900 lá. Quer dizer... eu vou fazer um 900 lá”, disse Gui Khury, que ainda explicou melhor os planos ousados para a competição.
“Quero fazer na frente do Tony Hawk, para ele ver. Tudo a galera. Assim, só de dar um 900 é um sonho”, completou, demonstrando que tem personalidade.
Luigi Cini também tem alguns truques para convencer os juízes a deixá-lo voar alto na pista que é construída no centro da cidade, próximo ao US Bank Stadium, casa do Minnesota Vikings na NFL.
“Eu queria acertar na minha linha o double flip 540, que acertei ela algumas semanas atrás já. Ainda não soltei o vídeo mas espero que eu possa fazer ela na minha linha dos X-Games. Eu ia ficar bem feliz”, disse.
Já Akio também traçou seus planos. Depois de ficar perto da final na última edição - terminou em 11º - , ele fez ajustes para conseguir dar um passo adiante nesta nova oportunidade.
“Esse ano eu pretendo colocar minhas manobras juntas, que no passado eu acertei minha volta, mas não acertei do jeito que queria. Quero ajeitar um pouco melhor ela, encaixar mais alguns flips, com o 540, e borda, fazer uma linha legal, um conjunto ao todo, não uma manobra específica”, contou.
O VERT ESTÁ MORRENDO?
Fora do programa da estreia do skate nos Jogos Olímpicos, a modalidade Vertical já não vive os momentos de glória do passado. Afinal, a ausência também significou uma perda de interesse e investimento, o que mexe com o sentimento dos garotos.
“O vertical está meio apagado da cena. O pessoal se adaptou muito ao street. Ficou muito street. Nyjah Huston, Paul Rodriguez... esses caras cresceram demais e tiraram um pouco a cena do vertical”, disse Japinha.
“Mas como você vê os X-Games está à tona ainda com o vertical, tem os melhores atletas de vertical, o nível não caiu. Então você vê o Jimmy Wilkins, o Moto Shibata, que foram os caras que ganharam no ano passado, os caras estão num nível nunca antes visto no vertical então acho que vai voltar a ser ali como era há uns 10 anos, que era a parada. Vai voltar a ter esse auge”, rebateu Luigi.
Rony vai nesta mesma linha, reconhece que a modalidade não é das mais fáceis de ser praticada, mas pondera que é importante para o skatista do park e do street ter uma base do vertical.
“Essa coisa de que o Vert está morrendo é meio que uma ilusão. Era uma modalidade meio elitizada, porque você precisa ter equipamento e skate bom, mas sempre tem uma geração vindo. Por mais que não sejam tantas pessoas como no Street, que é mais acessível, e no Park, que tem saído muitas pistas de concreto, o Vert sempre manteve a sua chama acesa”, disse.
DE CARA COM ÍDOLOS
Apesar de serem atletas indo em busca de marcarem seus nomes na história do torneio, eles também não deixam o lado jovem disfarçar a alegria de poderem dar de cara com alguns de seus ídolos.
“Uma das pessoas que eu conheci no ano passado, que marcou bastante, foi o Jake Brown. Ele estava competindo no ano passado em Minneapolis. E a minha mãe teve a honra de fazer acupuntura nele”, contou.
“Ela é acupunturista e ele estava com algumas dores, ela estava fazendo em uma galera lá, ele perguntou o que era, e ela fez acupuntura nele, eu troquei uma ideia com ele, foi muito massa. Uma experiência única, que só os X-Games proporciona”, completou.