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Análise: Valorant é o mínimo produto viável da Riot com potencial gigante de sucesso

O mercado de jogos de ação e tiro é duro, principalmente quando o assunto são games táticos com envolvimento em modalidades esportivas.

Nesse mercado, o principal é, sem dúvidas, o Counter Strike (da Valve), seguido por títulos como Overwatch (Blizzard) e Rainbow Six: Siege (Ubisoft), “concorrentes” com distribuições de mercado tradicionais — em que você paga pelo jogo em seu lançamento, e depois “dale” microtransações, expansões e horas de gameplay.

Valorant, o novo FPS tático da Riot Games, é gratuito e no período de lançamento conta com quatro mapas, onze agentes e um modo de jogo padrão, “reciclado” de forma mais curta pra quem quer dar uma coisa rápida ou aquecer os dedos.

Não à toa, Valorant parece um jogo menos completo em seu lançamento do que eram Overwatch e Rainbow Six: Siege no mesmo período. O jogo da Blizzard, por exemplo, foi apresentado ao mercado com doze mapas, quatro mecânicas diferentes e vinte um personagens. Já o game da Ubisoft, mesmo tendo apenas um modo de jogo, foi lançado com onze mapas diferentes e vinte operadores. Ambos custaram o que chamamos de “preço cheio” de lançamento, 60 dólares.

É importante que seja compreendido que, tanto em desenvolvimento quanto em modelo de negócio, a forma de operar da Riot é bem diferente das empresas citadas anteriormente. Isso tem prós e contras, e todos estão presentes em Valorant.

Qualidade quase avançada de gameplay

Tocando em um ponto importante para os quantitatistas, Valorant é um game muito gostoso, e, no momento, merece pelo menos uma nota oito. Ele mistura aspectos do desenvolvimento “moderno” às bases do Counter Strike, gerando uma identidade que, a princípio, parece genérica, mas resulta em algo muito próprio. Porém, se de um lado o FPS da Valve é uma instituição sólida, quase imutável e o maior esport da história — sobrevivendo por muitos anos sem a própria ajuda da Valve — Valorant é um game que tem um time de desenvolvimento e uma infraestrutura organizacional que ainda precisa trabalhar bastante.

Mesmo tendo uma sensação de jogo muito boa, com dinâmicas claras e objetivas, grande parte dos utilitários são visualmente idênticas. O melhor exemplo são as smokes: Brimstone, Omen, Jett e Viper são personagens que possuem esse recurso. Todos são basicamente idênticos, com uma ou outra exceção de efeito, mas no geral são esferas de fumaça.

Isso não tira o DNA dos personagens, principalmente dos kits, mas acaba dando aspectos genéricos a essas habilidades, generalizando suas funções. Quem sabe nas próximas atualizações a smoke da Jett não se torne uma nuvem de fumaça menos esférica, mais horizontal e dissipante? Esses pequenos detalhes, além de impactar no gameplay, podem trazer mais satisfação ao uso das habilidades. Satisfações que já são geradas de alguma forma por todos os personagens, mas principalmente por Cypher e Breach, que caíram muito no meu gosto.

Nem me arrisquei muito em Cypher já que paciência não é uma virtude minha, mas ver um bom jogador com esse agente é observar um artista. Já o sueco demolidor Breach é um personagem diferente com um kit de suporte muito ativo e no geral pouco complexo, assim como quase todo o Vavá.

Sim, Valorant não é um game tão complexo no momento. Quando falamos de mapas, por exemplo, todos são rasos, apertados e com posições óbvias. Melhor do que ler aqui é ver esse vídeo do MCHL, o “conteúdo líder” pra entender um pouco mais sobre o assunto. Não à toa, Valorant vem sendo apontado como o “CSGO pra burros”. E isso é muito bom!

Simplicidade planejada

É cristalino que o objetivo da Riot no momento é jogar a rede no mercado com a maior amplitude possível. O game precisa ter a menor classificação etária para atingir a maior quantidade de jovens possível, além de, claro, ser acessível em termos de jogabilidade. Isso é extremamente importante tanto para os jogadores quanto para os espectadores, já que o esport é uma das artérias da empresa.

Justamente por isso, mapas e personagens mais complexos devem chegar entre 2021 e 2022, o que tem a ver com curva de aprendizado e penetração de mercado. Com tanta oferta de jogos gratuitos, quanto mais complexo e menos recompensador um game gratuito for, menos tração de mercado ele consegue. Por esse fator, Valorant precisa ser o “CSGO pra burros” pelo menos por um tempo.

É o mesmo processo vivido pelo League of Legends em relação ao DOTA. A facilidade de se jogar Valorant deve atrair mais pessoas para o game, além de fomentar ainda mais o próprio CSGO. No fim do dia, todos ganham.

Olhando por esse prisma, é justificável o grande investimento da empresa em aspectos técnicos, como servidores de 128 tickrate, estabilidade de servidores e um anticheat que, apesar de ser extremamente agressivo, parece funcionar muito bem. Esse tipo de coisa, no momento, é mais importante do que a complexidade do game.

Mínimo produto viável

Avaliar o game no curto prazo é duro, então, junto com a comunidade, é preciso acompanhar o desenvolvimento do game que deve seguir com a proposta de ser um FPS tático mais simples do que o CSGO, assim como League of Legends é mais simplista do que o próprio Dota.

No mercado de empreendedorismo, principalmente o que envolve tecnologia, existe um termo chamado Minimum viable product (MVP). Ele consiste no mínimo produto viável a ser lançado para satisfazer o consumidor e fazer com que ele trabalhe como força avaliadora do seu produto.

Valorant é o mínimo produto viável a ser lançado no mercado de FPS em termos de gameplay, justamente pelo modelo de negócio da Riot Games — e, mesmo assim, ele é um belo produto. É preciso, no entanto, apontar a necessidade de polimento em alguns elementos e em todos os mapas, e com certeza a evolução poderá vir com o tempo.