Surfar as ondas gigantes de Nazaré, em Portugal, não é para qualquer um. Dropar aquele paredão d'água é assustador. Agora, imagine fazer isso sem enxergar. É o caso do brasileiro Derek Rabelo, que nasceu com glaucoma e perdeu a visão nos primeiros dias de vida. O surfe era um esporte que seu pai e seus tios praticavam, então, o interesse surgiu naturalmente.
"A única coisa que eu sempre pude controlar é a minha felicidade. Eu decidi desde pequeno que o fato de ter nascido cego nunca seria desculpa ou motivo para me impedir de realizar minhas conquistas", afirmou o capixaba de Guarapari em entrevista exclusiva à ESPN.
O primeiro passo para encarar o esporte com a deficiência visual foi desenvolver a técnica. Ouvir a onda, tocar a água e sentir a energia. Dessa forma, Derek aperfeiçoou um sexto sentido: o feeling. "A sensação de adrenalina é algo único e até difícil de descrever para quem não surfa. É um esporte muito prazeroso."
A história percorreu o mundo e chegou até o cineasta Pablo García em 2017, quando o colombiano estava gravando um documentário sobre Garrett McNamara, surfista dos Estados Unidos pioneiro em Nazaré.
Atleta concedeu entrevista à ESPN
"Derek estava pegando as maiores ondas que eu já tinha visto. Eu não comentei sobre sua deficiência visual e perguntei a opinião da minha equipe. Eles gostaram. Quando eu disse que Derek era cego, ninguém conseguiu acreditar", revelou García, também em conversa exclusiva com a ESPN.
Este foi o começo de uma amizade e de um projeto. As lentes do cineasta registraram o surfista em Portugal, Brasil, Havaí e Taiti. Na primeira quinzena de março deste ano, durante o evento de surfe adaptado em Florianópolis (SC), o Kizu Invitational, o colombiano gravou as cenas finais do documentário sobre o brasileiro, cujo lançamento está previsto para o fim de 2023.
"É difícil porque o surfe depende do tempo e das ondas. O Derek precisa de condições bem específicas, não é tão simples. Paciência, comprometimento e um time incrível são necessários para capturar as melhores imagens em segurança", explicou o diretor.
E agora?
Um capítulo acabou, mas o livro continua. O próximo passo de Derek, de 30 anos, é competir nas três etapas do circuito brasileiro de surfe adaptado. Primeiro, em Pernambuco, depois, na Paraíba e, por fim, em Búzios, no Rio de Janeiro.
"Além disso, meu objetivo é representar o Brasil no ISA Games, no final do ano na Califórnia (EUA), e quem sabe na Paralimpíada de 2028", disse o surfista - o parasurfe não fará parte do programa olímpico dos Jogos de Paris, em 2024.
Neste meio-tempo, Derek Rabelo segue inspirando pessoas dentro e fora do mar. Nas palavras de seu agora amigo Pablo García, ele é a prova viva de que nada é impossível.