Ex-Cruzeiro e Milan, Gabriel tem ajuda de esposa para treinar e relata pandemia na Itália: 'Foi assustador'
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<p>Gabriel tem 27 anos, mas já carrega muita história para contar. Desembarcou no futebol italiano em 2012, logo após os Jogos de Londres, onde defendeu a seleção olímpica de Neymar e Mano Menezes que acabou derrotada pelo México na final.</p>
<p>O garoto levantou a cabeça e, com 19 anos, chegou ao <a href="http://www.espn.com.br/futebol/time/_/id/103/ac-milan"><strong>Milan</strong></a>, negociado pelo <strong><a href="http://www.espn.com.br/futebol/time/_/id/2022/cruzeiro">Cruzeiro</a> </strong>sem sequer somar um jogo profissional. Rodou a Itália e hoje defende o Lecce.</p>
<p>Em casa, respeitando a quarentena em um país assolado pela pandemia do coronavírus, o goleiro concedeu entrevista à <strong>ESPN </strong>e abordou a carreira e também a dificuldade do dia a dia em meio à paralisação do futebol e um vírus que proporcionou cenas chocantes.</p>
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<p>"Quando a Itália chegou no pico da situação, quando a gente via os carros do exército na rua, a gente via números assustadores de mortes, de novos casos. Foi bastante complicado", disse o goleiro.</p>
<p>Neste papo, Gabriel conta como tem feito para manter a forma com a ajuda da esposa em casa, em treinos específicos para um arqueiro, fala sobre as medidas de segurança para retomada de treinamentos e o fato da Covid-19 ter infectado um amigo, o também goleiro Sportiello, do Atalanta.</p>
<p><strong>Gostaria que você falasse um pouco sobre essa situação complicada da pandemia na Itália.</strong><br>
A situação em Lecce está tranquila dentro da medida do possível. Nós estamos em quarentena, hoje é o dia 43 ou 44. Já perdi as contas para você ver como está com a situação. A situação mais complicada foi no Norte, sim, mas a quarentena e a paralisação, fechamento de todos os estabelecimentos foi em todo o país. Então aqui em Lecce a situação ficou da mesma forma, com tudo fechado. Funcionando somente supermercado e serviço sanitário, farmácia, enfim. A previsão é que dia 4 de maio entre na fase 2, que é o que eles têm falando aqui, que vão começar a abrir os estabelecimentos, tudo com certas medidas de precaução e medidas de segurança. Então a gente está na expectativa para esse dia 4 para saber quais vão ser os próximos passos que a gente vai poder dar.</p>
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<p><strong>Você tem conversado com algumas pessoas. Como está o clima?</strong><br>
A gente têm acompanhado a situação do Norte, tenho conversado com algumas pessoas e também foi assustador. Quando a Itália chegou no pico da situação, quando a gente via os carros do exército na rua, a gente via números assustadores de mortes, de novos casos. Foi bastante complicado. Pessoal lá da Norte estava bem assustado porque chegou uma hora que os hospitais estavam lotados e sem espaço. Já tem uma semana que os números na Itália estão melhorando, estão caindo, isso é uma boa notícia. Agora eles estão sendo bastante cautelosos para começar a voltar porque tem-se o receio de voltar à vida normal e ás vezes voltar esse número que teve aqui semanas atrás. Eles ainda estão levando com bastante cautela, mas os números estão melhorando.</p>
<p><strong>Já foi informado a vocês quais medidas devem ser seguidas no retorno às atividades?</strong><br>
A situação aqui ainda está bastante indefinida em relação ao futebol. Até teve uma reunião das federações com o Ministério da Saúde e ainda a situação ficou indefinida. Eles estavam para dar uma posição final se a gente poderia voltar a treinar dia 4 de maio, mas essa posição ainda não foi dada. O protocolo que a Federação liberou é bastante cauteloso para a volta aos treinos. Então seria uma volta aos treinos devagar, começaria com pequenos grupos, onde teria distância de um metro dentro do vestiário, onde os atletas tomariam banho cada um no seu quarto, no seu estabelecimento, para evitar contatos. A volta do campeonato seria sem torcida, com portões fechados. Enfim, tem uma série de medidas que a Federação criou esse protocolo para poder voltar com os treinos e com o campeonato. Porém ainda não foi 100% aprovado, ainda está em período de estudo. A gente ainda não tem previsão de quando vão voltar os treinos, quando os campeonatos vão voltar.</p>
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<p><strong>Alguém próximo de você foi infectado?</strong><br>
Não. Graças a Deus perto de mim, não. O último jogo que o Lecce jogou foi contra o <a href="http://www.espn.com.br/futebol/time/_/id/105"><strong>Atalanta</strong></a>. E antes do jogo tive bastante conversa com um dos goleiros do Atalanta. A gente já jogou no mesmo time, já teve o mesmo treinador de goleiro. Enfim, a gente teve aquela conversa pré-jogo que é alguma coisa normal. E esse goleiro (Sportiello) foi contaminado pelo vírus e até essa semana agora ele fez mais um exame e o vírus continua, deu positivo. E esse foi o caso mais próximo que eu tive.</p>
<p><strong>Ele te relatou alguma dificuldade, como está passando?</strong><br>
Eu não conversei com ele depois dessa situação, as notícias que tem é que ele está bem. Teve um pouco às vezes de sintomas, de febre, tosse, mas que está bem. Então assim, quando a gente não têm a situação de perto, não dá para opinar e entender a real situação. Porque falam que alguns têm febre, alguns têm tosse, alguns são assintomáticos. Então até que você veja essa situação de perto não tem como você saber a realidade. Você só fica pelo que você lê, pelo que você escuta.</p>
<p><strong>Há muita curiosidade nesses tempos de pandemia e muitos jogadores de linha divulgam como treinam. Mas e um goleiro como tenta manter a forma nesse período?</strong><br>
Tem sido bem legal aqui em casa porque a minha esposa tem me ajudado. A gente tem treinado junto, tentamos criar uma rotina de treino, de estudo, de alimentação para manter uma rotina, para manter a mente positiva senão a gente só fica lendo notícias e enchendo a cabeça de coisas que às vezes não acrescentam tanto. Eu até coloquei alguns vídeos nas minhas redes sociais que ela tem me ajudado a fazer alguns treinos de goleiro, ensinei ela a chutar um pouco, ela gosta de chutar, jogava às vezes futebol nas com as amigas nas férias e tal. E às vezes ela errava os chutes, eu ficava nervoso, falava "não, concentra!". Mas é que a gente está acostumado com o treinador de goleiro que chuta bem, acerta os chutes. Então às vezes estou treinando ali com ela, no meio do exercício ela erra o chute, eu fico nervoso. Aí eu lembro: "calma, é a minha esposa, não é o treinador de goleiro". Então ela tem me dado uma ajuda, eu tenho um espaço aqui em casa, tenho um jardim, a gente vai lá faz um treininho, ela chuta, às vezes coloco ela para treinar também. E nessa a gente vai tentando manter o ritmo, o treinamento na medida do possível e também aproveita para divertir, ter um momento legal, tem sido assim que eu a gente tem feito.</p>
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<p><strong>Você chegou muito novo na Europa. Lucas Paquetá também chegou jovem e sofre com a irregularidade no Milan. Como é essa adaptação ao um garoto jovem que chega em outro país?</strong><br>
Então, vou falar da minha experiência pessoal e talvez pode estar se refletindo também na vida do Lucas. Não é fácil você sair do seu país e vir para um país totalmente diferente, com uma cultura diferente. Às vezes você chega aqui e tem uma dificuldade para se adaptar com o idioma, para se adaptar com rotina deles aqui, com o jeito deles de ser. Eu sentia falta de coisas que no Brasil são normais. Reuniões de família, reuniões de amigos. O ambiente no clube é um ambiente diferente, no Brasil às vezes tem mais um clima descontraído do que aqui na Itália, aqui eles são mais profissionais. Não que no Brasil não seja, mas tem aquele senso às vezes de levar o profissionalismo com um toque de diversão, com um toque de alegria. Talvez isso pode ser uma coisa que tenha gerado dificuldade. Eu tive sorte de quando cheguei no Milan ter outros brasileiros, então isso me ajudou bastante. É uma coisa que às vezes para o Lucas não está tendo, acredito que hoje no Milan ele seja o único brasileiro. E para mim também eu cheguei e não tinha jogado no profissional no Brasil, cheguei muito novo. Goleiro é uma posição onde talvez você tenha mais tempo para se mostrar, para produzir. E ele já chegou com uma grande expectativa em cima dele, com uma cobrança muito grande em cima dele. Então talvez esses possam ter sido os motivos que não deixaram ele render tanto como rendia no Flamengo. Mas tem muito tempo, ele está novo ainda. Tem muita coisa para acontecer.</p>
<p><strong>Tem lembranças da seleção olímpica de 2012?</strong><br>
Era muito legal. Lembro dos treinamentos, um nível altíssimo, jogadores de um nível muito alto, o treinamento ficava gostoso de se fazer e tudo mais. Foi um tempo muito legal. Nós não ficamos na Vila Olímpica. A seleção brasileira de futebol ficou num hotel afastado. Foi um período muito legal, conviver com pessoas ali, fiz amizades que eu mantive até hoje. Rafael goleiro, que era o goleiro titular na época, depois ele machucou, enfim. A gente fez uma amizade que somos amigos até hoje, as nossas esposas também, a gente se fala praticamente quase todo dia. Infelizmente nós não conseguimos o título, perdemos para o México na final, mas foi uma experiência muito bacana, muito legal, de aprendizado, de conhecer pessoas maravilhosas.</p>
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<p><strong>E a fase no Lecce, como tem sido? A ansiedade para voltar aos jogos é grande?</strong><br>
É demais, cara. Isso é uma coisa bastante complicada porque gera toda essa indefinição e incerteza. Então cada dia falam uma coisa, uma notícia diferente. Então no final das contas você não sabe o que vai acontecer, da forma que vai acontecer. Eu estava vindo fazendo uma excelente temporada, a minha melhor temporada desde que eu cheguei aqui na Itália. Eu girei muito, fui emprestado bastante porque vim para cá, como você falou, bem novo sem ter jogado no Brasil. Então eu tive bastante experiências aqui rodando para ter oportunidade de jogar, fui emprestado três vezes para a Série B. Em duas oportunidades fui campeão da Série B, isso foi muito bom. Mas esse é o primeiro ano que eu estou sendo titular no time da primeira divisão. Jogando todos os jogos, tendo uma sequência muito boa. Então assim, para mim estava sendo uma temporada bastante produtiva. Agora você ficar nessa indefinição de saber quando vai voltar, como vai ser. Não é fácil. Dentro da nossa cabeça é uma luta constante de controlar esses nossos pensamentos e conseguir pensar no presente e não ficar pensando no dia de amanhã. Eu tenho tentando viver cada dia e não tentar fica pensando no que vai acontecer.</p>
<p><strong>Você é bem jovem, tem 27 anos e lastro grande no futebol europeu. É ideia voltar ao Brasil, um jogador que saiu tão jovem, fica aquele gostinho de jogar num Mineirão, num Maracanã?</strong><br>
Sim, eu vou completar oito anos aqui e cada ano que passa parece que essa vontade vai aumentando um pouco. Esse desejo de jogar nos grandes estádios do Brasil, de às vezes ter uma folga e ir para a casa ficar com os pais, com os meus irmãos e às vezes no jogo está toda a família lá, estão os amigos. Você vai jogar o Campeonato Mineiro, vou jogar em Uberlândia onde é a família do meu pai, os amigos poderem ir lá assistir, os familiares. São experiências que eu não vivi, mas tenho vontade de viver um dia.</p>
<p><strong>Chegam notícias de Barcelona renegociando redução salarial, outros clubes da Europa, aqui no Brasil. Como está esse assunto na Itália?</strong><br>
Aqui também está com essa questão, alguns times já encontraram acordos com os atletas. No meu time aqui, particularmente, a diretoria é muito tranquila e equilibrada. Então a gente está esperando a definição sobre o campeonato, quando vai voltar, se vai voltar para ter um fechamento da negociação. Mas a gente tem conversado sobre essa questão. E ambas as partes entenderam que talvez tenha a necessidade de fazer uma redução aqui, uma redução ali para encontrar um ponto de equilíbrio, para a gente se ajudar. Porque entendemos que é um momento complicado e talvez isso seja necessário para o bem comum e eu falo especificamente do meu time aqui.</p>
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- Pedro Henrique Torre, do Rio de Janeiro (RJ)