Até poucos anos atrás a vida de Felipe Jonatan parecia que seria bem longe dos campos de futebol. Hoje um dos titulares do Santos, que encara a LDU-EQU, nesta terça-feira, pelo primeiro duelo das oitavas de final da Conmebol Libertadores, o lateral-esquerdo tinha tudo para não virar jogador profissional.
A partida no Equador terá transmissão ao vivo do FOX Sports a partir das 19h30 (de Brasília) e acompanhamento em tempo real, com VÍDEOS de lances e gols, no ESPN.com.br.
A realidade para o garoto criado no Bom Jardim, bairro humilde em Fortaleza, era complicada. Ao longo da juventude, ele perdeu muitos amigos de infância para o tráfico de drogas e precisou trabalhar desde os 12 anos para ajudar no sustento de casa.
A primeira atividade foi como vendedor de frutas e legumes na feira. Dos 14 aos 17 anos, Felipe ajudou sua mãe a vender roupas femininas no "Galpão da Felicidade" nas madrugadas.
"Meu bairro era muito perigoso. Saí da favela, tive que lutar junto com meu pais e precisei abdicar de algumas coisas, como os estudos, pelo sonho de jogar futebol", disse ao ESPN.com.br.
"A feira começava 1h e terminava só ao meio-dia. Até hoje minha mãe tem loja, e foi sofrido porque acordar meia-noite é complicado. Era um trabalho muito digno e me doava ao máximo", explicou.
Ao mesmo tempo em que estudava e trabalhava, ele tentava vingar na carreira do jogador na base do Fortaleza. Após ter problemas com um dirigente tricolor, ele foi levado por Assisinho para o Ceará. Em 2016, porém, ele pensou em desistir da bola após passar por um período de incertezas.
"Estava na base do Ceará e olhei para minha mãe, que não tinha R$ 3,50 para comprar um galão d'água para beber. Foi ali que resgatei meu esforço e procurei me doar ainda mais. Estava voltando de lesão no ligamento cruzado anterior do joelho e minha mãe tinha parado de trabalhar para cuidar de mim. Foi um momento marcante porque faltou comida dentro de casa e a gente estava recebendo ajuda dos meus tios. Foi bem delicado e guardo com boas lembranças para dar valor às oportunidades e crescer cada vez mais", recordou.
"Os maiores ensinamentos que tirei da época de vendedor são que precisamos sonhar e nos dedicarmos, independentemente do trabalho, porque tudo é suado. Temos que correr atrás e valorizar cada centavo que ganhamos e ajudar nossos pais. Todos pensam que jogador de futebol é só dinheiro, fama e glamour, mas não é. O jogador de futebol sofre muito, abdica de sair e deixa familiares em outros estados", afirmou.
A mudança veio após a disputa da Copa São Paulo de futebol júnior de 2017, quando teve seu contrato renovado e foi efetivado aos profissionais.
"Parei de trabalhar na feira porque precisava treinar dois períodos e não tinha como conciliar", explicou.
Fã de Marcelo, do Real Madrid, Felipe era a quarta opção na lateral do Ceará até 2018, mas ganhou espaço depois da vitória do Vozão sobre o Corinthians por 2 a 1 no Brasileiro. Ele se firmou como um dos destaques da equipe antes de ser vendido ao Santos, em 2019.
"Tinha jogado muito bem pelo Ceará, que tinha 98% de chances de sair, mas o Lisca levantou o astral do grupo e conseguimos um feito histórico. Quando veio a vontade do Santos não pensei duas vezes por causa da grandeza e da história do clube. Estou muito feliz".
Na Vila Belmiro, ele disputou a posição com Jorge até o final do Brasileiro. Além disso, foi chamado para a seleção olímpica pelo técnico André Jardine.
"O Santos tem uma magia diferente, só quem pisa na Vila Belmiro sabe o clima. Meus amigos que vão jogar contra a gente dizem que é muito difícil. É onde jogou o Pelé, o maior jogador de todos os tempos, e tantos outros craques. É um clube que parou a guerra!", afirmou.
Neste ano, ele foi titular absoluto com os treinadores Jesualdo Ferreira e Cuca e participou de 41 jogos - marcou dois gols e deu duas assistências. Agora, Felipe tem o desafio de ajudar o Santos a eliminar a LDU na Libertadores.