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Investindo mais de R$ 3 milhões, W7M quer se consolidar como uma gigante dos esports

A BGC foi um dos campeonatos conquistados pela W7M nesse ano no Counter-Strike Brasil Game Show

De completa novata no mundo dos esportes eletrônicos, a potência no cenário nacional de Counter-Strike: Global Offensive. Está é a W7M Gaming, organização que surgiu “do nada” no fim de 2017, sendo criada por um grupo de investimentos homônimo, e que já participou de mais de 30 eventos - entre torneios e seletivas -, conseguindo subir no pódio em 17 oportunidades.

A fim de saber como as coisas funcionam nos esports, antes de iniciar o investimento o grupo W7M resolveu estudar o mercado. Entre as ações, os investidores visitaram a a edição 2017 da Brasil Game Show (BGS) e se cercaram de pessoas que vivem do meio. Assim contou o diretor-executivo do clube, Fabiano Funari Filho, em entrevista ao ESPN Esports Brasil.

“A gente viu que a melhor maneira de entender o mercado de esports é estar próximo com quem vive isso, com quem tem esse dia a dia, com quem literalmente vive com esse tipo de coisa. O primeiro passo foi montar a organização, a W7M. Na época, a gente começou a fazer os contatos e vimos que o melhor elenco do cenário era o da Bootkamp, o qual adquirimos e acabou se tornando a W7M no CS”, conta Funari.

Atualmente, o quinteto que defende a organização é formado por Lucas “YJ” Yuji, Rafael “raafa” Lima, Leon “ryotzz” Felipe, Filipe “pancc” Martins e Ramon “RMN” Toledo. Pedro “peu” Lopes é quem comanda a formação, que também já contou com outros nomes conhecidos do cenário, como Lucas “luk” Soares e Thiago “tifa” França A expertise em gerir a equipe acabou vindo com o tempo, muito graças a ajuda dos jogadores, que, de acordo com Funari, foram atentamente ouvidos pela W7M para garantir vitórias no palco.

“A gente montou a organização, começamos a viver muito com os jogadores e eles explicaram muitas coisas para gente. Eles iam ensinando como as coisas funcionavam. O segundo passo foi a construção de uma arena gamer para servir de centro de treinamento para a equipe. Nós a construímos com equipamentos de última geração e muito bem localizada e distribuída. A terceira ação foi fazer o que mais sabemos: mídia e aí começamos a nos perguntar como vamos fazer mídia nesse mercado”, revela o executivo.

Para quem não entende nada sobre o mundo dos negócios, a W7M está investindo cada vez mais na forma de monetizar a organização e, ao investir em mídia da equipe, o clube pretende trazer mais visibilidade para seus times, conseguindo assim atrair novos patrocinadores. Para isso, Funari conta que já possui diversos streamers contratados, como Caio "m4romba" Sanches.

Quem pensa que a W7M se resumo ao time de CS:GO se enganou, pois a organização não está parada apenas no First Person Shooter (FPS) da Valve. O clube conta também com jogadores de Clash Royale, FIFA e Playerunknown's Battlegrounds (PUBG). “O nosso movimento em mídias começou com blogs em 2010. A gente viu esse mesmo movimento nas streams, que são os blogueiros da atualidade e que vão se valorizar. Então a gente montou uma network de streamers e influenciadores do mercado de esports”, explica Funari.

Essa explosão que aconteceu em menos de um ano é fruto de buscar entender como um cenário, como o do esports, está se desenvolvendo. É o que conta o diretor-executivo da W7M: “A gente dedicou uma grande parte da equipe de operacional, criamos uma divisão de esports dentro da empresa e começamos a correr atrás de contato, fazer esse network e viver esse mercado”.

Além disso, Funari reforça que a organização foi ouvindo os jogadores e os streamers que fazem parte da network:“Não teve influência de fora. Foi mais os jogadores dando a dicas, conversando com a rede de streamers. Eu tenho mais de 1.5 mil streamers na minha rede. Então, a gente conversa com eles, faz evento na arena e vai obtendo informações do mercado e conhecendo”.

INVESTINDO EM UM CENÁRIO COMPLEXO

É interessante ver um grupo de investimento se interessando por um mercado que está se desenvolvendo, mesmo em um cenário político cercado por incertezas “Um movimento arriscado”, reconhece Funari.

Segundo Funari, para a W7M entrar no cenário de esports foi necessário um grande investimento: “Vou te falar no geral. Está na casa dos R$ 3 milhões no primeiro ano e deve ser um pouco mais no próximo. Inclui arena, organização, rede de streaming, equipe, estrutura interna, etc”. Mas só isso não basta, ainda de acordo com o próprio executivo. “A gente sabe que tem que investir mais, mas o plano do grupo é esse. O investimento foi direcionado. Se a gente achasse que era suficiente, eu continuaria lá. Mas como nosso plano é bastante ambicioso, a gente direcionou todo o investimento para os esports”, disse.

“É muito imprevisível. No mercado de mídia, principalmente, quando a gente fala de digital, você pode ir do zero a 1 milhão em 10 dias. Foi o que aconteceu com os blogueiros em 2012. É muito imprevisível. A gente tem ciência que um investimento a médio prazo. Acho que em 2023 a gente tenha um cenário mais consolidado”, explica Funari.

Mas trata-se de um risco calculado, de acordo com o diretor-executivo. “O grupo W7M investe em outros cenários, como rede de academia e mercado imobiliário. A gente tem um fundo em Miami, com um escritório nos Estados Unidos. E justamente por isso [a crise] a gente deu uma segurada nos investimentos como equity [uma modalidade de fundo de investimento que consiste na compra de ações de empresas que possuam bons faturamentos e que estão em crescimento] e continuou com os investimentos em mídia em inovação”, aponta.

Funari conta que a W7M continuará investindo pesado no ano que vem. “O primeiro passo para o restante do ano e também para 2019 já foi dado. Abrimos uma quarta empresa no cenário de esports: a WLF Esports Agency. Trouxemos o Ronaldo Rangel, que foi da [agência] DPZ Rio e presidente da ABAP [Associação Brasileira de Agências de Publicidade], uma figura muito grande das agências de publicidade”, revela o diretor-executivo.

Prevendo minha pergunta, Funari trata de explicar o motivo pela contratação de Rangel: “A nossa estratégia é mostrar para as marcas como consultoria estratégica porque é bom se posicionar lá dentro. É um mercado que não é dominado por nenhuma marca e quem se apropriar, nesse momento, deve ser consolidar, porque daqui a pouco entra uma Coca-Cola e, que nem ela faz com a música, ninguém mais entra. Esse é um pouco de nosso desafio”, conta.

Mesmo há pouco tempo no cenário, Funari conta que já notou certos movimentos que poderiam atrair novos investidores. “O mercado tem que se profissionalizar em muitas frentes. Tem muita gente bem-intencionada, mas que traz as coisas para o lado emocional e não para o business. E essa é a visão do grupo: trazer para o lado business. Qualquer tipo de negócio tem que ser bom para todo mundo. Tem que ser bom para a organização, bom para marca. Então, tem que ter uma profissionalização geral do mercado”, opina.

“Por isso que a gente trabalha com esses três pilares. Dentro da organização a gente tem um controle de profissionalização. Dentro da rede de streamers a gente trabalha, a gente faz essa frente com os streamers para que eles estejam aptos a receber uma propaganda da marca. Então, a gente instrui ele em algumas coisas que devem ser adeptas para que tenha uma marca patrocinando”, continua o diretor-executivo da W7M.

PENSANDO NOS JOGADORES

Claro que ter um grande nome por trás ajuda muito a trazer novas marcas e investidores para o cenário dos esports, mas como isso se traduz para os jogadores? Funari fala que valoriza seus players e a W7M vai utilizar a Lei Pelé em sua gestão. “A primeira coisa que a gente trabalha é a formalidade ao extremo por fazer parte de um grupo de investimento. Todo mundo tem um contrato com a Lei Pelé”, revela.

“Em relação a salários, eu não posso abrir [o valor], mas a gente tenta manter todo mundo confortável de uma maneira que possam jogar sem ficar preocupado com dinheiro no mês que vem. A gente tenta trazer a melhor faixa salarial do Brasil. Acho que isto também é uma aposta do grupo. O que a gente não compensa [apenas] com salário, compensa com estrutura, uma série de coisas”, conta o executivo.

Sobre a faixa salarial dos jogadores e a certa disparidade entre o cenário de League of Legends e Counter-Strike, Funari diz que “existe essa disparidade porque, ao disputar o CBLoL, você tem uma bolsa da Riot, você já tem uma série de patrocinadores deles. O pessoal do Counter-Strike sabe que é um desafio construir neste cenário. É um desafio do cenário de mostrar ‘também sou grande’. Isto é um desafio nosso grupo. Enquanto mais o grupo crescer, com mais patrocínio, melhor será para os jogadores em geral”, aponta.

FUTURO

A W7M tem outras cartas na manga e o diretor-executivo até brinca com o famigerado meme “Novidades em Breve”, quando questionado pela reportagem sobre expansão. Abrindo o jogo, Funari revela que o grupo vai entrar de cabeça num cenário que tem grande potencial: Fortnite.

“Estudamos os maiores públicos, as maiores audiências, em como se consolidar, como a gente faz, qual é a estratégia para nos consolidarmos como a maior ou uma das maiores organizações do Brasil. LoL é um jogo que tem que estar, que todas as grandes tão. Fortnite é um jogo que está crescendo muito. Vai ser o maior índice de premiação a nível mundial em 2018. Então, é uma frente que estamos estudando mais”, explica o executivo.

“As maiores audiências são LoL, CS, Clash e Fortnite. Ao nosso ver, são as quatro maiores audiências e onde devemos estar presentes. Dota existe no nosso radar mas não é algo certo ainda. Um outro plano para a organização, para o ano que vem, é fazer um bootcamp ou levar um dos times lá para fora. Só que isso a gente quer fazer da maneira certa, diferente do que outras organizações fizeram e não se consolidaram. Não tem sentido ir lá para fora e ser mais um”, conta Funari.

Sobre levar o time para os EUA, Funari diz que “deve ter um movimento para a equipe de CS. Seja um bootcamp ou um período para ficar morando. Mas a gente vai fazer com muita cautela e vai tentar ser o mais assertivo possível. Se não for algo plausível, que não se consolide, não tem sentido fazer. Por que isso é algo ruim para a organização e para os jogadores”, afirma.

Ao final da entrevista pergunto a Funari sobre “como você enxerga a W7M daqui a 10 anos” e o diretor-executivo responde quase sem pensar, como se essa pergunta tivesse sido ensaiada: “Enxergo entre as duas maiores organizaçõs de esports do Brasil e as melhores do mundo. Esse é o nosso objetivo”.

Aproveito para perguntar qual seria, em sua opinião, a principal concorrente da W7M. O executivo para pensar durante dois segundos e responde: “A gente tem a INTZ, que está bem estruturada, muito forte no LoL”.

Mas além dos Intrépidos, os quais diz ser uma “referência para a gente”, Funari apontou também outros clubes como paiN Gaming, Vivo Keyd, Team oNe, Isurus Gaming e Sharks Esports “Não vejo nenhuma destas organizações morrendo, pois fazem um trabalho muito bom”, opina.

* Gabriel Melo e Ricardo Caetano colaboraram