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Os números por trás da explosão de abandonos na ATP

Novak Djokovic foi uma das muitas estrelas do tênis a encerrar mais cedo sua temporada 2017 ESPN Illustration

O cenário foi ficando cada vez mais familiar à medida que a temporada 2017 da ATP se desenhava.

Era Nick Kyrgios abandonando logo na primeira rodada em Wimbledon (e em algumas outras partidas em 2017) ou na falta de grandes estrelas no ATP Finals (estavam lá Roger Federer e Rafael Nadal, e ninguém mais, na verdade). As desistências pareciam ser uma nova regra.

Em Londres foram Andy Murray e Novak Djokovic, os dois melhores jogadores de 2016. Também foram Stan Wawrinka e Kei Nishikori, ambos entre os cinco melhores da temporada anterior. Djoko e Murray, em particular, pularam grande parte da temporada para lidar com fadiga e lesões. Mas a estatística de maior destaque girava em torno dos jogadores mais abaixo no ranking – aqueles que não lucram o mesmo que os astros. As desistências no meio dos jogos cresceram, assim como os WOs, um número que dobrou nos Grand Slams nos últimos 25 anos.

Quando Pete Sampras e Andre Agassi estavam começando a aparecer, em 1992, os abandonos eram raros. Apenas 13 jogadores desistiram no meio de suas partidas naquela temporada – ou 2,56% do total. Neste ano foram 28 WOs ou abandonos nos Majors (5,51%).

Por que a tendência de alta? Demos uma olhada mais profunda nos números.

É um problema das primeiras rodadas

Nas últimas cinco temporadas, o momento mais frequente para jogadores abandonarem foi na primeira rodada dos Grand Slams. Um total de 74 jogadores deixaram seus jogos por contusão, aproximadamente 20 a mais do que nas quatro rodadas seguintes somadas.

Mas por quê?

Estar na chave principal e chegar ao jogo da primeira rodada significa receber algum dinheiro – vencendo ou perdendo. Depois da primeira rodada? Apenas vencer o jogo garante um prêmio adicional (embora a ATP tenha feito algumas mudanças para ajudar a evitar esse problema a partir de 2018). Os dados mostram uma espécie de fenômeno “caça-níquel”, em que jogadores machucados classificam-se para os grandes eventos apenas para abandonarem na primeira rodada e pegarem seus pagamentos. A primeira rodada tem a maior quantidade de jogadores vindos do qualify – aqueles que já disputaram jogos apenas para chegarem à chave principal –, então eles estão potencialmente mais desgastados ou já machucados.

Mas também é a rodada com mais jogadores no limite de sobreviver como profissionais. Muitos deles precisam do dinheiro para manter seus treinadores, suas equipes ou até mesmo para pagar por quartos de hotel nas cidades mais caras do mundo.

Levando em conta os jogos de melhor de três sets no ATP Tour, o segundo set é o momento mais comum para um abandono. Nos últimos cinco anos, este instante corresponde a 39% das desistências em grandes eventos. Uma possível razão: em jogos curtos, jogadores intuitivamente sabem que começar um set atrás, e possivelmente perder alguns games no segundo, significam uma batalha complicada, com poucas razões para continuar.

O US Open é o último Grand Slam do calendário, e os jogadores podem carregar mais desgaste para a competição após uma longa temporada.

Seja qual foi a razão, este evento é aquele que mais vê desistências e WOs. O US Open também é o Slam com o maior crescimento do prêmio nos últimos 25 anos – e também é aquele que distribuiu a maior quantidade de dinheiro no período.

Quem abandona mais? Quem não desiste?

Desde 2013, o francês Paul-Henri Mathieu desistiu 16 vezes, três vezes a mais do que qualquer outro jogador no circuito. Mathieu jogou apenas 10 partidas em 2017, e seu ranking caiu para 249º do mundo. Martin Klizan e Kei Nishikori estão empatados em segundo no quesito no período, com 13 desistências cada.

Por outro lado, existe Federer. O que mais podemos dizer sobre o maior campeão de Slams de todos os tempos? Ele venceu dois dos grandes torneios em 2017 e terminou em segundo do ranking. Deixando de lado suas vitórias, talvez a mais impressionante estatística seja uma pouco observada: ele jamais abandonou um jogo em seus 20 anos de circuito. Enquanto desistiu de torneios entre rodadas apenas três vezes em 1.382 jogos no circuito, ele nunca deixou uma partida no meio.