Os Jogos Pan-Americanos de Santiago 2023 começam nesta sexta-feira (20). E a promessa é de muitas histórias incríveis, medalhas e emoções até o dia 5 de novembro.
Durante as próximas quase três semanas, os melhores atletas das mais diversas modalidades do continente vão se desafiar na capital do Chile na maior competição da América, que chega em sua 19ª edição e será sediada pela 1ª vez no país.
O Comitê Olímpico do Brasil viaja para o Pan com a segunda maior delegação de sua história em participações nos Jogos, perdendo apenas para a edição de 2007 no Rio de Janeiro, quando o Brasil, por ser o país-sede, acabou tendo representantes em praticamente todas as modalidades.
A delegação brasileira contará com 633 atletas incluindo reservas e, se contarmos os integrantes técnicos e oficiais do COB, mais de 1000 pessoas estarão presentes na Vila Pan-americana. O Brasil terá representantes nas 60 modalidades.
Para entrar de vez no clima da competição, o ESPN.com.br preparou um guia especial do Pan de Santiago de 2023 com as principais estrelas, algumas ausências e as modalidades que dão vaga para as Olimpíadas de Paris. Além, é claro, de algumas curiosidades.
Principais estrelas nos Jogos Pan-Americanos de 2023
Rebeca Andrade, Flávia Saraiva e todo o time da ginástica brasileira feminina estarão presentes em Santiago. A campeã olímpica no salto, que na semana retrasada conquistou cinco medalhas no Mundial da modalidade na Bélgica, chega para sua 1ª participação em um Pan-americano, algo até curioso, uma vez que ela já participou de duas Olimpíadas (Rio 2016 e Tóquio 2020), mas não disputou os Pan anteriores (Toronto 2015 e Lima 2019) porque estava lesionada.
Além da ginasta, a também campeã olímpica Ana Marcela Cunha também está confirmada no Pan. A nadadora brasileira de 31 anos, que levou a medalha de ouro na maratona aquática (10 km) nas Olimpíadas de Tóquio 2020, é a atual vencedora da prova no Pan e tem 7 títulos mundiais (2 na prova de 5km e 5 na de 25 km). O último resultado de Ana Marcela Cunha antes de Santiago foi o 5º lugar no Mundial de Natação de Fukuoka em julho 2023.
Outra campeã olímpica brasileira que está garantida no Pan de Santiago é Rafaela Silva. A judoca de 31 anos conquistou a medalha de ouro, em casa, nas Olimpíadas do Rio em 2016. Desde então, passou por um turbilhão na carreira.
A carioca que disputa a categoria leve, até 57 quilos no judô, foi suspensa por doping em 2020 e acabou fora dos Jogos de Tóquio. Rafaela foi flagrada no teste realizado durante a disputa do Pan de 2019, em Lima, quando a brasileira foi campeã, mas acabou perdendo a medalha de ouro. O antidoping apontou a substância fenoterol, que é um medicamento que atua como broncodilatador usado para o tratamento de asma brônquica, pneumonia, bronquite e tuberculose.
Rafa Silva alega que foi uma contaminação acidental e, após cumprir a supensão de 16 meses, voltou a competir e foi bicampeã mundial em 2022, quase 10 anos depois do seu primeiro título em 2013. A judoca embarca para sua 4ª participação em Jogos Pan-Americanos e busca sua 3ª medalha após ficar com a prata em 2011 e o bronze em 2015.
Martine Grael e Kahena Kunze, bicampeãs olímpicas, também estão confirmadas nos Jogos Pan-Americanos de Santiago. A dupla, que conquistou as medalhas de ouro em Tóquio 2020 e Rio 2016, defende o título na classe 49erFx nas raias chilenas de Valparaíso após ter vencido a modalidade no Pan de Lima em 2019. Além disso, ainda compete para também garantir uma vaga nas Olimpíadas de Paris no ano que vem, uma vez que elas não conseguiram ficar entre as 10 primeiras colocadas no Mundial de vela disputado em agosto desse ano na cidade de Haia, na Holanda.
As campeãs olímpicas brasileiras também terão a companhia de um campeão olímpico. Isaquias Queiroz, medalha de ouro na canoagem em Tóquio, defende seu título conquistado em Lima 2019 na C1 1000. Será a 3ª participação em um Pan-Americano do baiano de 29 anos, que também conquistou três medalhas no Pan de Toronto, em 2015, sendo duas delas de ouro. Isaquias, que já está classificado para as Olimpíadas de Paris, quer apagar o resultado abaixo do esperado no Mundial de Canoagem disputado em Duisburg, na Alemanha, quando acabou de fora do pódio pela 1ª vez na carreira.
Outra grande estrela presente no Pan é a brasileira Rayssa Leal. A fadinha do skate, que venceu a medalha de prata no street nas Olimpíadas de Tóquio, vai participar da estreia da modalidade nos Jogos Pan-Americanos. A brasileira de apenas 15 anos também conquistou duas medalhas de ouro nos Mundiais de Skate e nos X-Games nesse ano e no ano passado. Rayssa é a grande favorita no skate street feminino.
O Brasil ainda tem um time extenso de medalhistas olímpicos para o Pan, como Beatriz Ferreira do boxe (prata em Tóquio 2020 na categoria peso leve), Fernando Scheffer da natação (bronze nos 200m livre também no Japão), Daniel Cargnin do judô (bronze no peso meio-leve em Tóquio 2020), Abner Teixeira do boxe (bronze no peso-pesado em Tóquio), Luisa Stefani e Laura Pigossi do tênis (bronze nas duplas femininas também no Japão), Arthur Nory da ginástica artística (bronze no solo no Rio 2016), Rodrigo Pessoa do hipismo (ouro nos saltos individuais em Atenas 2004 e bronze no salto por equipes em Atlanta 1996 e Sidney 2000), entre outros.
Modalidades bastante tradicionais, como o atletismo e a natação, também serão muito bem representadas pelos brasileiros em Santiago. No atletismo, o revezamento do time do Brasil, que chegou a final do Mundial de Atletismo neste ano, vai com força máxima com Paulo André, Erik Felipe, Felipe Bardi e Rodrigo do Nascimento. Além dos velocistas, Caio Bonfim, da marcha atlética, e Darlan Romani, do arremesso de peso, também estão confirmados.
Nas piscinas chilenas, o Time Brasil vai praticamente com força máxima. Além de Scheffer (ouro no 200m livre), o "Cachorrão" Guilherme Costa (ouro nos 1500m livre) e Leonardo de Deus (ouro nos 200m borboleta), tentam defender seus títulos conquistados em Lima 2019. A única grande ausência da natação é Bruno Fratus, medalha de bronze no 50m livre nas Olimpíadas de Tóquio 2020, que não participou da seletiva da natação brasileira em abril. Fratus está se recuperando de uma cirurgia no ombro e deve voltar a competir apenas no final de novembro no Troféu José Finkel.
Ausências importantes no Pan de Santiago
O Chile trata esta edição dos Jogos Pan-Americanos de Santiago como o maior evento esportivo já sediado em seu território, mesmo sendo o país-sede da Copa do Mundo de futebol de 1962, vencida pela seleção brasileira. Mesmo assim, algumas grandes estrelas do esporte brasileiro e mundial não vão participar.
Principal adversária de Rebeca Andrade e a maior medalhista em Mundias da história da ginástica, Simone Biles não vai disputar os Jogos Pan-Americanos. A norte-americana, que venceu quatro medalhas de ouro no último Mundial, até estava na convocação preliminar dos Estados Unidos, divulgada em agosto, mas acabou não sendo chamada na lista final. Biles não vai competir para se preservar e continuar a preparação para as Olimpíadas de Paris, uma vez que o time americano já conquistou sua vaga e vai poder levar cinco atletas para a França. A ausência da ginasta, no entanto, não significa que a equipe dos Estados Unidos não seja uma das favoritas, uma vez que mesmo sem levar todas suas estrelas, as americanas foram campeões das últimas cinco edições do Pan na disputa por equipes.
No atletismo, Alison dos Santos também será um dos maiores desfalques do Time Brasil. Medalha de bronze nos 400m com barreiras nas Olimpíadas de Tóquio, o "Piu” optou por não disputar os Jogos Pan-Americanos de Santiago para poder focar na preparação para Paris. Alison, em exclusiva para a ESPN, explicou sua decisão:
“Esse ano, a gente (eu e minha equipe técnica) passou por alguns percalços na temporada. Nós não tivemos tempo para nos prepararmos. Percebemos que o tempo é muito importante, então, nós optamos por pausar agora temporada para começar mais cedo possível 2024.”
O Pan de Santiago vai ser a edição dos Jogos que vai começar mais “tarde” no ano calendário de toda a história. Geralmente disputada em julho, a atual competição acontece agora no final de outubro e vai até meados de novembro, a menos de 10 meses das Olimpíadas de Paris.
No judô, outra medalhista olímpica também vai desfalcar o Time Brasil no Chile. Mayra Aguiar, que conquistou três medalhas de bronze em três Olimpíadas (Londres 2012, Rio 2016 e Tóquio 2020), também resolveu priorizar a preparação para os Jogos de Paris. A judoca de 32 anos não competiu no primeiro semestre desse ano justamente para se recuperar fisicamente. Mayra voltou aos tatames no mês passado no pan-americano e da Oceania de judô e conquistou a medalha de ouro na categoria meio-pesado, até 78 kg. Além disso, a gaúcha tem três títulos mundiais (2014, 2017 e 2022) e abriu mão de defender seu título conquistado nos Jogos Pan-Americanos de Lima em 2019.
No tênis, os principais nomes de simples do Brasil, como Beatriz Haddad Maia, número 21 do mundo, e Thiago Wild, nº 77, não foram convocados porque priorizaram o calendário da ATP e WTA, que não “para” para a disputa do Pan. A Confederação Brasileira de Tênis vai contar com Thiago Monteiro (nº 126 da ATP), Marcelo Demoliner (nº 75 das duplas) e Gustavo Heide (nº 254 das simples) no masculino, enquanto no feminino, além de Laura Pigossi (nº 120 de simples e 266 das duplas) e Luisa Stefani (nº 10 das duplas), Carolina Meligeni (271 nas simples e 381 nas duplas) também foi chamada.
Vagas olímpicas em disputa no Pan de Santiago
Se o calendário prejudicou a presença de alguns grandes atletas, os Jogos Pan-Americanos, por outro lado, também vão distribuir muitas vagas para as Olimpíadas de Paris. Inclusive, a competição continental é o torneio que mais vai classificar atletas para os Jogos do ano que vem.
De acordo com o Comitê Olímpico Internacional (COI), 21 modalidades disputam vagas diretas para Paris 2024, sendo que mais de 100 classificações estarão em jogo no Pan de Santiago. Isso sem contar as vagas definidas por índice olímpico, que podem ser atingidos na capital do Chile. O Pan também vai contar para o ranking de diversas modalidades que seguem esse critério para definir as vagas olímpicas.
As vagas diretas nominais (específica para o atleta) em disputa para Paris 2024 são:
Boxe: finalistas de cada categoria, além dos semifinalistas das categorias até 57 kg e 60 kg no feminino.
Breaking: melhores colocados*.
Escalada: melhores colocados de cada prova.
Pentatlo moderno: campeão independente do continente, dois melhores colocados da América do Norte, central e Caribe, e dois melhores colocados da América do Sul.
Surfe: melhores colocados.
Tênis: finalistas das simples.
Tênis de mesa: duplas mistas finalistas.
Ginástica rítmica: melhor colocada.
Ginástica artística: melhor colocado no individual geral.
*O que significa o termo 'Melhores colocados'? Caso o atleta campeão da prova já tenha uma vaga assegurada para as Olimpíadas de Paris, o atleta mais bem colocado que ainda não garantiu vaga para os Jogos recebe a cota.
As vagas diretas para o Comitê Olímpico Nacional (desde que esse país já não tenha se classificado atráves de competições anteriores ou atingido o número máximo de vagas) podem selecionar os atletas que vão para Paris 2024:
Saltos ornamentais: melhores colocados de trampolim e da plataforma.
Hipismo: duas melhores equipes do Concurso Completo de Equitação, duas melhores equipes do adestramento, dois melhores finalistas do indiviual, três melhores equipes dos saltos e três melhores finalistas do salto individual;
Hóquei sobre grama: melhores colocados.
Nado artístico: equipe campeã, dueto da equipe campeã e melhor dueto campeão, respeitando o máximo de uma vaga por comitê olímpico nacional
Polo aquático: equipes melhores colocadas
Tiro esportivo: melhores colocados de cada categoria e finalistas da fossa, skeet, pistola de tiro rápido masculino e pistola 25m feminina.
Vela: melhor colocado da América do Norte e Caribe e melhor colocado da América do Sul e Central de cada categoria, exceto nas dinghy e na ILCA que contemplam os dois melhores colocados de cada região.
Tiro com arco: duas vagas individuais da melhor equipe mista e quatro vagas individuais, duas de cada gênero, para os melhores classificados.
Curiosidades
Graças a um material produzido pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) sobre os atletas brasileiros em Santiago, algumas informações bem curiosas foram destacadas. Rayssa Leal é a competidora mais jovem da delegação verde e amarela, mas ela não está sozinha no "bonde" dos adolescentes. Hussein Daruich, do tiro esportivo, Maria Eduarda Alexandre, da ginástica rítmica, e Raicca de Oliveira, do skate park, têm 16 anos.
Se por um lado temos esse quarteto de jovens, no Time Brasil também tem os mais experientes. O tiro esportivo concentra os atletas mais "vividos" entre eles o decano da delegação Renato Portela, que tem 60 anos. Além do sexagenário, os companheiros de time Vladimir da Silveira, com 54, e Emerson Duarte, 52, também estão entre os mais experientes.
A diversidade não está representada somente na idade do Time Brasil como também a geografia. As cinco regiões brasileiras estão presentes no Pan de Santiago com o Sudeste liderando com 351 atletas seguido pelo Sul (87), Nordeste (47), Centro-Oeste (26) e Norte (7). Além disso, alguns brasileiros vão vestir a camisa verde e amarela, mas nasceram em outros países ao redor do mundo. São eles:
Filipe Otheguy: França - pelota basca.
Daniel Missaki: Japão - beisebol.
Douglas Naoli: Japão - beisebol.
Enzo Sawayama: Japão - beisebol.
Patrick Van Der Heijden: Holanda - hóquei sobre grama.
Yuri Van Der Heijden: Holanda - hóquei sobre grama.
Eduardo Luduena: Argentina - hóquei sobre grama.
Joaquin Lopez: Argentina - hóquei sobre grama.
Adam Imer: Austrália - hóquei sobre grama.
Scott Machado: Estados Unidos - basquete.
Nathalie Moellhausen: Itália - esgrima.
Valentina Bosselmann: Alemanha - golfe.
Sofia Scheibler: Colômbia - patinação.
Cesar Alvas: Estados Unidos - luta greco-romana.
Eduardo Soghomonyan: Armênia - luta greco-romana.
Antônio Bravo Neto: Estados Unidos - triatlo.
Por fim, até a altura entre os atletas do Time Brasil apresenta uma certa diversidade. Flávia Saraiva, a Flavinha da ginástica artística, tem 1,48 m, enquanto Maicon, do vôlei tem 2,15 m. Os Jogos Pan-Americanos também promovem algumas modalidades que não estão no programa olímpico, como é o caso do beisebol, boliche, esqui aquático, karatê, patinação artística em rodas, patinação de velocidade inline, pelota basca, raquetebol, softbol, squash e wakeboarding.