A Libertadores 2018 promete ser uma das mais fortes dos últimos anos, com vários grandes clubes da América do Sul em condições de buscar o título.
Na Argentina, porém, os "favoritaços" são, como de hábito, Boca Juniors e River Plate, que se reforçaram recentemente com nomes de peso e possuem elencos fortíssimos para lutar pelo troféu mais cobiçado do continente.
Mas se os clubes argentinos vivem há anos em crise financeira, recebendo muito menos de televisão e patrocinadores que os clubes brasileiros, de onde vem tanto dinheiro para contratar atletas como Carlitos Tevez e Lucas Pratto?
Ou melhor: como é que xeneizes, donos do 2º plantel mais caro da Libertadores (90,78 milhões de euros, ou R$ 351,26 milhões, segundo o site especializado Transfermarkt), e millonarios, que terão o 4º plantel mais valioso do torneio após a incorporação de Pratto, conseguem bancar elencos tão caros?
Pelo menos no caso de Boca e River, boa parte da grana vem do bolso de seus apaixonados torcedores, que sempre lotam os estádios e, além disso, colocam muito (mas muito) dinheiro diretamente no cofre das equipes.
Veja como:
BOCA JUNIORS
Recentemente, o Boca apresentou seu orçamento para 2017/18 na Argentina, na qual irá disputar o Campeonato Argentino, a Copa Argentina e a Libertadores (além de, possivelmente, o Mundial de Clubes).
Segundo a planilha, o time de La Bombonera espera o ingresso de 1.590.140.297,00 pesos (R$ 270.642.758,16) nesta temporada.
Deste valor, 650.052.308,00 pesos (R$ 110.639.262,41) devem vir dos sócios-torcedores da equipe, segundo a estimativa oficial do clube.
Ou seja: os sócios serão responsáveis por 41% de todo o faturamento dos xeneizes em 2017/18.
A entrada de grana vinda diretamente dos torcedores inclusive é até maior de tudo o que o clube espera receber em "exibição de espetáculos esportivos".
Isto é toda a receita vinda do futebol profissional, seja com ingressos, seja com direitos de televisão.
Segundo a planilha, o Boca espera arrecadar 559.669.156,00 pesos (R$ 95.255.999,94) neste quesito.
Além disso, o time de Buenos Aires ainda conta com 348.347.039,00 pesos (R$ 59.304.548,67) vindos de seu departamento de marketing.
Já o dinheiro vindo de outros setores, como futebol de base, basquete e esportes olímpicos, é irrisório perto dos outros itens.
RIVER PLATE
Do lado alvirrubro de Buenos Aires, a importância dos sócios-torcedores é ainda mais que no Boca.
Segundo o balanço da temporada 2016/17, publicado em novembro do ano passado, a receita total da temporada foi de 2,006 bilhões de pesos (R$ 341.524.119,37).
Deste montante, 49% veio dos sócios, torcedores, ou praticamente 1 bilhão de pesos (R$ 170.221.556,12).
Fora isso, 36% vieram do departamento de marketing e 15% de direitos de televisão.
Os sócios-torcedores do River, aliás, foram o principal motor da retomada do clube, que há alguns anos chegou a cair para a 2ª divisão argentina, mas hoje se restabeleceu como força no país e no continente.
"Os sócios do River foram as pessoas que permitiram o clube subir degraus e chegar a outro patamar financeiro, com seu aporte de pagamento de mensalidades e ingressos", definiu o tesoureiro do clube, Andrés Ballotta.
"Hoje, o River tem sua independência econômica e financeira graças aos sócios-torcedores, que foram o principal motor do ressurgimento de nossa economia", acrescentou.
Com os sócios "segurando a onda", os millonarios conseguiram sanear completamente o clube nas últimas temporadas, já que puderam usar o dinheiro da venda de jogadores para pagar antigas dívidas ao invés de eternos juros que assombravam o clube.
A venda do atacante Sebastián Driussi, no último mês de julho, por 15 milhões de euros (R$ 58 milhões), por exemplo, permitiu ao River bancar seus últimos credores. Atualmente, a equipe não tem mais nenhuma dívida bancária, segundo seu balanço.
COMPARANDO COM O BRASIL
Comparando com os times brasileiros, Boca e River recebem muito mais dinheiro de seus sócios-torcedores do que as equipes dos países vizinhos.
No Brasil, o time em que a grana mais pesa no orçamento é no Internacional, que tem 112.756 sócios e cujo orçamento depende 22% do dinheiro que eles colocam em caixa.
Um valor muito menor que os 41% do Boca, e ainda mais ínfimo perto dos 49% do River.
Em outros clubes, a diferença é ainda mais notável.
No Flamengo, por exemplo, os 104.610 representam apenas 16% da receita total.
Já os 124.128 sócios do Corinthians possuem um peso praticamente nulo no orçamento: só 6% do total.