Qual fã de esporte eletrônico nunca ouviu “ÉOQ” ou “Confia no Verdadeiro”? Os bordões são parte da construção de duas das imagens mais expressivas no cenário — YoDa, no League of Legends, e FalleN, no Counter-Strike, jogadores profissionais, produtores de conteúdo e empresários em série.
Nos bastidores, porém, duas figuras se empenham diariamente no crescimento e na manutenção de cada uma das marcas. Adriana Noronha e Kenia Toledo são, respectivamente, as mães de Felipe Noronha e Gabriel Toledo, e auxiliam seus filhos em questões burocráticas, administrativas e estratégicas para que as empresas criadas por eles prosperem.
ADRIANA, FELIPE E YODA
Adriana Piller Noronha tem 46 anos e é sócia de YoDa nas duas empresas idealizadas pelo streamer, atuando como COO (Chief Operating Officer) na Sehloiro, empresa que desenvolve projetos e negócios relacionados ao mercado de esports, e como chefe de planejamento na nøline, focada em consultoria e geração de conteúdo em games e esports.
“Eu já estou há quase 7 anos como sócia do YoDa e atuo na gestão operacional e financeira de todos os projetos que envolvem a marca Sehloiro”, explica a empresária, em entrevista ao ESPN Esports Brasil. Formada em Educação Física e com 26 anos de experiência na gestão de marcas de esporte tradicional, a mãe de Felipe Noronha conheceu os esports através de YoDa, e aplicou os conceitos que já conhecia em um meio até então inexplorado.
“Desde o início, a preocupação era por ser um universo muito amador, o que ainda é um pouco”, afirma Adriana. “Não disponibiliza de leis regulamentadas ainda. A minha maior preocupação como mãe era como ele estaria posicionado profissionalmente, então eu atuei muito na gestão desde o início, por conta da mãe ter essa aflição”, relata.
Para a empresária, sua entrada nos esports, há 7 anos, não aconteceu de maneira orgânica. “Foi muito de não ter outra saída”, confessa. “Como eu sempre trabalhei com gestão, sempre tive um olhar lá na frente e me preocupei em ter um plano B, C, D… o abecedário inteiro”, brinca.
“Não tinha como registrar, formalizar um contrato como atleta”, relembra. O “estouro” rápido de YoDa por conta do bordão Sehloiro foi o estopim para que a marca fosse registrada, e a mãe sugeriu a formalização, o licenciamento e, posteriormente, a construção da Sehloiro como empresa.
“Foi a forma que eu achei de recolher um pro labore [salário do dono da empresa] pra ele e, de repente, profissionalizar, ele se tornar um empresário desde o início. Poxa, ele trabalha 8, 10 horas como atleta, mais 4 horas streamando… e aí, como vai ser?”, narra, remetendo ao início da carreira de YoDa. “Foi o primeiro recurso que tive. Não montei a empresa com a pretensão de virar o que ela virou… As coisas foram acontecendo depois”, conta.
Hoje em dia, Adriana administra a figura de YoDa como streamer e atleta na Sehloiro; seus projetos, tais como a Batalha de Rap, Casos de Trabson, o YoTalkShow, a YoLive; e a nøline, que conta com estrutura para produção de conteúdo, a Live Arena e um projeto educacional em parceria com o grupo Ser Educacional. A maioria dos projetos do atleta têm o aval e o dedo da empresária.
“Eu modestamente tenho um papel importante sim”, diz a mãe quando questionada sobre a importância de seu trabalho na proporção que YoDa tomou enquanto figura pública. “Principalmente na Sehloiro, porque hoje eu vivo dela. A gente criou tudo junto, mas toda a gestão de operação, gestão financeira, contábil e de marketing, fui eu quem fiz e eu que faço ainda”, revela.
Apesar de YoDa ter tornado-se uma das personalidades mais importantes em seu meio, Adriana confessa que tenta não supervalorizar a imagem pública de seu filho. “Quando ele se torna famoso, você leva um susto. Eu sou muito terra, então eu tento… sabe não demonstrar, ou não potencializar isso? Não querer mostrar muito isso pro mundo. Eu sou mais resguardada”, conta.
“Meu orgulho e meu carinho ficam contidos. Mas eles explodem todos os dias, e eu só agradeço a Deus”, confessa a mãe. “Não sou aquela fã de ficar falando. Acho que a gente não precisa disso, mas essa é minha forma de conduzir as coisas. Agora, o orgulho é gigante, né?”
“Eu sempre fui muito amiga do meu filho”, conta Adriana. “Eu tenho uma afinidade espiritual gigantesca pelo Felipe… daqui a pouco eu tô chorando, né”, brinca. “Eu sinto um pouco de falta dele do meu lado, meu amigo, sabe. Mas é muito legal.”
“Ele saiu de casa muito cedo, com 17 anos, pra um universo muito diferente e difícil. Isso sempre me deixou um pouco assustada. Acho que por eu ter conseguido me realizar na minha área, eu tive muita certeza de que eu poderia estar contribuindo na área dele.”
“Os grandes momentos em que eu tive dúvida, por incrível que pareça, foi o YoDa que falou ‘vai dar certo, fica tranquila, tamo junto’, narra. “Sempre ouvi isso dele. Na estreia do YoTalkShow, eu tava mais nervosa que ele, algumas coisas tinham dado errado. (...) Ele me falou ‘não tem uma coisa que nós dois fazemos que não dá certo’. Aí explodiu, né… É muito bom estar do lado dele. É um privilégio”, finaliza.
KENIA, GABRIEL E FALLEN
Diferente de Adriana, Kenia Toledo, de 49 anos, não tinha experiência na administração de empresas antes de ser inserida pelo filho nos três braços do atual Grupo Fallen. Tendo trabalhado na área de vendas desde os 15 anos de idade, a empresária conta que aprendeu a estruturar uma empresa e uma marca na prática, com os empreendimentos do filho, Gabriel Toledo.
“É bem recente. Eu entrei pra cuidar dos negócios dele mesmo em 2017, e [as marcas] já estavam andando e crescendo organicamente. Justamente por isso e pelo crescimento muito rápido, das coisas que precisavam ser otimizadas e profissionalizadas, eu entrei e assumi”, conta.
Kenia é CEO (Chief Executive Officer) do Grupo Fallen, e está a frente dos desenvolvimentos da marca Fallen no Brasil, “e logo, se Deus quiser, no exterior”, espera. Atualmente, o grupo conta com a ecommerce Fallen Store, os periféricos da Fallen Gear e o vestuário da Fallen Wear.
Em outubro de 2018, foi lançado por Kenia e Gabriel a estratégia monomarca do grupo, em que, como parte de um planejamento para 5 anos de desenvolvimento da marca, GA Store e GFallen foram extinguidos para tornarem-se parte da empresa unificada Fallen.
Você pode entender mais sobre o Grupo Fallen na matéria: "Confia no marketeiro": Como "Fallen" se tornou uma marca de esports no Brasil
Quando fala sobre a trajetória do filho Gabriel nos esports, Kenia não hesita em repetir a palavra “orgulho”. “O Gabriel começou de uma forma muito despretensiosa, começou como jogador. Foi crescendo, vencendo por ele mesmo. Ele tem um espírito muito agregador e hoje tem praticamente a família toda trabalhando nos negócios dele”, compartilha.
“Ele é muito família. Basta ver também pelo cuidado que ele tem de que todos estejam trabalhando e se desenvolvendo, fazendo a marca dele. Com certeza absoluta isso também é uma realização para ele”, conta a empresária, afirmando também que Fallen sempre foi muito próximo dela.
Para Kenia, faltam palavras para descrever o que significa ver Fallen chegar onde chegou. “Eu não sei se tem uma palavra que eu consiga expressar mais forte do que orgulho. É orgulho do que ele conseguiu se transformar, do quanto ele impacta as pessoas positivamente, orgulho de ver e sentir o quanto as pessoas se inspiram no Gabriel”, diz.
“É orgulho a família toda poder trabalhar nisso e é orgulho dizer que, hoje, Fallen é sinônimo de esports, que é o ramo que o Gabriel adora trabalhar. É orgulho de tudo, eu não posso reclamar. Eu realmente, do fundo do meu coração, tenho muito orgulho, mesmo”, confessa a mãe de Fallen.
DICA PARA MÃES
As duas mães empresárias não hesitam em deixar conselhos para outros pais que estejam passando por situações parecidas com as vividas por elas no início da carreira de seus filhos. Para Adriana, é fundamental entender o que o filho faz e, posteriormente, quais são as oportunidades no mercado em que ele está inserido.
“A primeira dica é: você sabe o que o seu filho joga? Se não, vai tentar entender. A segunda é: vai estudar o universo gamer. Perceba quais são as possibilidades dele empreender nesse mercado gigante, que tá no guarda-chuva de ciência e tecnologia, voltado pra economia criativa. A gente tem várias possibilidades de formar grandes profissionais e ganhar dinheiro. E a terceira e mais importante de todas é: nunca desista do seu filho”, crava a COO da Sehloiro.
Kenia acrescenta que as mães e pais precisam “entender que o mundo está evoluindo”, e que os esports trazem um mundo de oportunidades que somente a mãe que souber escutar o que o filho tem pra dizer vai conhecer. “O conselho que eu dou é: escuta e fica muito próxima”, disserta.
“Para ser saudável, tem que ser saudável também a relação do filho com o jogo. E para ser saudável para uma criança pequena, tem que ter o apoio da mãe. Porque tudo tem que ser dosado. Tem que ter jogo, tem que ter divertimento, tem que ter responsabilidade, e tem que ter estudo. E pra que a criança consiga conciliar tudo isso, tem que ter uma mãe ali cuidando”, opina.
Adriana Noronha confidencia que vai, sim, passar o dia das mães com YoDa. “Vamos passar em família”, comenta. “Na casa da madrinha dele, com meus afilhados, minha filha, com ele. Vamos estar juntos. Depois de dois dias vai ser meu aniversário, também. É legal mas meio chato, né?” ri. “Mas vamos passar todos juntos, sim. Vai ser gostoso, vai ser bom estar junto.”
Kenia Toledo, no entanto, conta que não passará com Fallen. “Infelizmente. O Gabriel tá em [época de] campeonato. Esse fim de semana, eu acho que ele vai estar nos Estados Unidos. Eu não posso ir, porque realmente estou num ritmo de trabalho aqui na empresa que está exigindo muito de mim. É uma pena. Mas eu passarei o dia das mães com meus outros três filhos. Vai faltar só o Gabriel.”
Questionada se fica ‘menos mal’ por saber que Gabriel está longe porque está fazendo o que ama, Kenia concorda no ato. “Ah, fica. Isso é uma coisa que me deixa muito tranquila, sempre. Todas as vezes, todas as despedidas em aeroporto que a gente tem… Às vezes, ele fica muitos meses sem vir pra casa. Realmente, é isso que tranquiliza. Saber que ele tá bem, que tá fazendo o que gosta e que tá feliz. Isso com certeza é um bom atenuante pra o coração de uma mãe”, finaliza.