Torcida que só incentiva e não briga existe. Não precisa ser formada por vassalos de cartolas
Aqueles poucos gatos pingados ganharam um nome – Legião tricolor -, um estatuto completamente informal e milhares de adeptos que enchiam as arquibancadas amarelas do Maracanã nos jogos do time. O auge do movimento foi nas campanhas da Libertadores de 2008 e na luta contra o rebaixamento em 2009. Ali surgiram os mosaicos, inscrições feitas com sinalizadores nas arquibancadas, candelas e todo tipo de festa que pudéssemos inventar por mais que desafiassem o impossível.
Apesar disso tudo, o movimento passou por percalços e perdeu força por três motivos principais: insistência em nos manter unidos com outras torcidas organizadas a partir de 2010, mudança para o Engenhão e novas normas de conduta dentro de estádios de futebol.
Foi no fim de 2009 que as coisas começaram a mudar. Por iniciativa da diretoria do Fluminense a Legião Tricolor se uniu com as outras torcidas todas do time com o objetivo de unir o canto para embalar o time na fuga do rebaixamento. Na prática, apenas Legião e Young continuaram juntas até o fim do campeonato. Missão dada, missão cumprida. Porém, a continuidade da união com a TYF - que teve vida útil curta - levou o movimento a perder sua referência no estádio, levando ao seu enfraquecimento. Eram modelos de torcidas antagônicos na sua raiz dividindo, agora, um mesmo espaço. Algo como colocar água e óleo no mesmo copo. O resultado foi que os adeptos que se juntaram à Legião no seu início, aos poucos foram sumindo e poucas pessoas sobravam para botar a mão na massa, sem haver uma renovação de torcedores. Esse foi o primeiro baque que o movimento sofreu.
O segundo foi a mudança para o Engenhão – cujo caminho nenhuma torcida carioca descobriu até hoje - e a continuidade de uma união, dessa vez com a torcida Flunitor, que embora fosse mais fácil de lidar, ainda havia diferenças gritantes no modo de agir, além do pequeno espaço físico que o estádio do Botafogo possui para acomodar pelo menos oito (sim, oito!!!) torcidas organizadas que o Fluminense tem. O movimento então passou por um processo de diluição na arquibancada, cabendo a ele, apenas organizar os mosaicos e outras festas que ocorreram no período. A torcida voltou ao seu deserto de idéias e muitas disputas entre organizadas.
Somam-se a esses fatos, as diversas ameaças que sofremos de torcidas organizadas, tendo sair de escoltados e sermos salvos pela PM por algumas vezes. Enfim, o movimento que nunca dependeu do clube pra nada, que sempre se recusou a receber ingressos, que não lida com dinheiro – exceto nos momentos nas organizações de grandes festas, quando faz as “vaquinhas” pelas redes sociais – era constantemente ameaçado fisicamente, além de sofrer inúmeras calúnias.
Não bastassem as ameaças físicas, passamos então a sofrer outro problema, dessa vez com a justiça. Na ânsia dos diversos governos em transformar estádios de futebol em teatros de ópera para a copa do mundo, a Legião se viu coagida a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que se contrapunha a toda nossa forma de se organizar, que estabelecia uma série de deveres a serem cumpridos, sem que direitos nos fossem dados. Ao contrário das torcidas organizadas que assinaram o TAC, o movimento sentiu a necessidade de brigar por seus direitos. Não assinamos o mesmo TAC assinado pelas organizadas e sentamos à mesa com o Ministério Público para negociar. Ao fim de um longo processo – em que o MP entendeu que o modelo do movimento era na verdade algo diferente das torcidas organizadas - conseguimos assinar um termo de conduta que respeitava nossa forma de organização. Não obtivemos privilégios, apenas exigimos nossos direitos como cidadãos e torcedores, embora, muitos dos elementos que usávamos na arquibancada, como sinalizadores, piscas, candelas e trapos estivessem proibidos a partir dali. Até mesmo simples faixas, hoje, precisam passar pelos olhares da polícia para serem aprovadas.
Apesar de tudo isso, continuamos durante todo o tempo tentando construir uniões com organizadas dadas as condições ruins de espaço no Engenhão, e o movimento atuando ainda que de forma fraca, não deixava de cantar pelo Fluminense. Nos últimos períodos, nos posicionávamos entre as torcidas Fiel Tricolor e Flunitor, quando mais uma vez a truculência falou mais alto por divergências de idéias. Ficou claro para todos então, que ali não era mais o nosso lugar – nunca foi na verdade.
Sem se deixar esmorecer, a Legião Tricolor desde o jogo contra o Huachipato pela mesma Libertadores de 2013, tem seu espaço na arquibancada, e hoje busca com sucesso retomar suas raízes, retomar a alegria de ir ao estádio apenas para cantar, a capacidade de somente de se divertir com toda a paz do mundo, o que alimentou a legião no seu nascimento. E continuaremos cantando, porque o grito só não basta.
Fonte: Mauro Cezar Pereira, blogueiro do ESPN.com.br
Torcida que só incentiva e não briga existe. Não precisa ser formada por vassalos de cartolas
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.