Diego Costa posa com a taça do Brasileirão conquistada pelo Atlético-MG
Pedro Souza/Atlético-MG
O racha deflagrado entre os clubes das Séries A e B do Brasileirão, exemplificado pela divisão em dois grupos distintos que discutem a fundação de uma Liga de Clubes, pode gerar um efeito devastador para o futebol no médio prazo.
O cenário de ruptura entre as entidades, somada à mudança recente de legislação, com a entrada da Lei do Mandante, pode levar a um cenário em que os dirigentes ficarão cada vez mais separados em grupos, em vez de se unirem para constituir uma única liga.
Sim, ainda é um cenário hipotético. Mas, por enquanto, ele aparece como o mais factível. De um lado ficarão os fundadores da Libra. Do outro, os clubes do Forte Futebol e outros que eventualmente queiram fazer frente.
Todos com seus argumentos para pender para um ou outro lado, mas com uma coisa em comum: nenhuma necessidade de reduzir a pedida e se chegar a um acordo. Por que isso acontece?
A sensação de que a Lei do Mandante dá poder ao time para negociar pelo menos 50% dos seus jogos, quando antes ele tinha de obrigatoriamente conversar com o adversário para ter um acordo para a transmissão da partida, faz com que o dirigente siga “peitando o sistema” até o final.
Só que essa situação já se provou um desastre na Itália e na Espanha, países em que a concentração de receita de mídia em pouquíssimos clubes gerou um desequilíbrio esportivo enorme que ainda tem suas consequências.
Na Itália, com uma legislação que permitia a “Lei do Mandante”, Inter, Juventus e Milan negociavam junto com outros 11 clubes os direitos de mídia do Italiano. Do outro lado, ficavam seis clubes que vendiam sua cota para outras TVs. O resultado? O trio de grandes, que liderava as negociações, ficavam com 75% da receita de mídia. E o restante que lutasse por uma parte dos direitos. Isso só foi acabar com a instituição da venda unificada de direitos, após os clubes quebrarem pela falta de receita.
Na Espanha, o modelo era similar ao atual no Brasileirão. Os clubes vendiam por conta própria os direitos, sem aglutinar em grupos e com direito apenas sobre os jogos em que era o mandante. Assim, Barcelona e Real Madrid tinham 80% do valor de mídia. O restante? Que lutasse.
Isso durou até o Sevilla decidir promover um boicote e proibir transmissão de seus jogos. Em um ano em que o Barcelona foi campeão, o jogo decisivo não foi mostrado por nenhuma emissora, porque o Sevilla se recusou a liberar a transmissão da partida, acusando o sistema de prejudicar os menores, por mais performance esportiva que ele tivesse.
O caso foi a gota d’água para o governo intervir e exigir da LaLiga uma negociação coletiva de direitos. Desde então, os espanhóis ganham muito mais da venda de direitos de mídia, inclusive Barcelona e Real. Ao mesmo tempo, a distância dos mais ricos para os menos ricos ficou cada vez menor. Se a proporção era de 1 para 18, hoje está em 1 para 3,5 vezes o valor recebido.
Por aqui, a Lei do Mandante é usada como argumento vitorioso dos clubes do Forte Futebol para “peitar o sistema”. Como fizeram o “Clube dos 6” da Itália ou o Sevilla lá atrás. O resultado dessa desunião foi a desvalorização constante dos direitos de mídia e o enfraquecimento dos clubes e do futebol como um todo.
A Lei do Mandante não dá mais poder aos clubes. Ela permite ainda mais desunião e a falsa sensação de poder. É esse o maior risco do futuro do futebol brasileiro nesse instante. Em breve, será preciso o governo intervir mais uma vez para consertar o erro cometido em junho de 2020, ao fazer a medida provisória que resultou na Lei do Mandante.
Mundialmente está comprovado que somente a venda coletiva de direitos é eficiente para aumentar a arrecadação dos clubes e evitar um desequilíbrio esportivo. Tanto dos grandes quanto dos pequenos.
Se o cenário é ruim hoje, poderá ficar muito pior num futuro próximo. E não será por falta de aviso.
Clubes finalmente entenderam que, sem liga, todos perdem
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