Perdemos o olhar infantil sobre o esporte
Calleri talvez tenha sido um dos grandes nomes do Paulistão. Ao lado de Danilo, do Palmeiras, é um daqueles jogadores que dá gosto ver em campo. Protagonistas com a bola rolando, ambos foram também notícia fora dele depois de o Palmeiras atropelar o São Paulo e ficar com o título estadual.
A completa falta de respeito de Carelli ao estapear o telefone celular do torcedor palmeirense e a piada homofóbica de tio do pavê de Danilo, ainda dentro do gramado do Allianz Parque, são comportamentos inaceitáveis e que não condizem com aquilo que os dois jogadores fazem dentro de campo.
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A falta de respeito e de empatia que vivemos em nossa sociedade deu mais uma vez as caras com os dois craques de bola. Um não soube perder. O outro, ganhar.
Mas, para além disso, temos perdido no esporte brasileiro nossa capacidade de olhar para ele com os olhos de uma criança.
Abel Ferreira usou declarações dos atletas do Palmeiras do que eles diriam para eles mesmos aos 8 anos de idade para motivá-los antes da decisão contra o São Paulo. Compartilhado pelo Palmeiras nas redes, o vídeo traz um pouco do que é a dureza de vida de um atleta até se tornar profissional. Por que, então, nos esquecemos de olhar como criança, com o sonho de uma criança, quando estamos no auge de uma competição?
É fácil falar de fora, longe do calor da disputa ou sem vivenciar os bastidores de um jogo. Julgar como inadequados os comportamentos de Calleri e Danilo é simples. Mas eles revelam um problema maior de toda a indústria do esporte no Brasil.
A gente tem se esquecido de olhar para o esporte com o olhar apaixonado de uma criança. Isso faz a mídia repetir o bordão de que o futebol de hoje não é tão bom quanto o de antes. Ou o dirigente não se preocupar em ter, no seu clube, o olhar apaixonado de um fã, que é muito mais poderoso do que o de um executivo com muita teoria, mas pouca vivência como torcedor. Esse olhar curioso, encantado, feliz com um drible ou uma grande jogada.
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Apaixonar-se pelo esporte deveria ser um mantra a ser perseguido pelos gestores no Brasil. Temos de incentivar uma cultura que preze pelo respeito ao esporte, acima de tudo. Um atleta precisa saber que seu papel é pensar em qualquer jovem, não apenas naquele que torce para seu time. É preciso ensinar a respeitar o esporte, independentemente de qual a posição que a pessoa esteja. Seja um atleta, um torcedor, um jornalista, um dirigente ou um patrocinador, temos de ser treinados a pensar sempre como um fã apaixonado.
Carelli e Danilo erraram. E muito. Mas eles são apenas a reposição de um modelo que afasta cada vez mais o esporte no Brasil da sua essência. O esporte existe para encantar. Precisamos colocar esse pensamento como prioridade.

Perdemos o olhar infantil sobre o esporte
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