A faca da vergonha

Incredulidade. Indignação. Revolta. E, no final das contas, vergonha.
Esperei quase três horas para finalmente tentar escrever, com um pouco mais de calma, o texto sobre o que aconteceu no São Paulo 0x1 Palmeiras na semifinal da Copa São Paulo de Juniores. Era necessária a pausa para tentar esperar entender o que de fato tinha acontecido para surgir, no meio de uma já deplorável cena de invasão de campo por torcedores interessados em bater em jogadores adversários que sequer tinham feito algo contra o time rival, uma faca dentro da Arena Barueri.
Na hora, o sentimento foi de incredulidade. Como poderia um torcedor entrar no estádio com uma faca? Depois, veio a indignação. Como pode um torcedor invadir o gramado para intimidar um jogador de menos de 21 anos de idade e, pior ainda, possivelmente portando uma faca? Depois de ver o árbitro Matheus Delgado Candançan simplesmente não encerrar a partida para a qual ainda faltavam dois minutos, permitindo que a torcida que causou toda a barbárie ainda tivesse a chance de ver seu time não ser eliminado, veio a revolta. Não pela possibilidade de o jogo mudar. Mas pela banalização da violência. Ainda mais por se tratar de um campeonato de juniores e de uma situação em que não tinha acontecido qualquer provocação dos jogadores palmeirenses aos são-paulinos.
No fim das contas, o sentimento que fica é o da vergonha. Vergonha por trabalhar com esporte no Brasil. Vergonha por ver como incentivamos, na mídia e nas redes sociais, a violência. Vergonha por ver que a Polícia Militar é absurdamente incompetente para cuidar do torcedor. Vergonha por ver que a Federação Paulista de Futebol é uma piada. Entidade que tenta aparentar moderna, mas que há 30 anos não se preocupa com o básico: transformar os campeonatos que organiza em eventos amigáveis para os torcedores. Vergonha por ter de vir aqui e escrever não sobre o jogo de dois times que mostraram, com atletas ainda juniores, extrema qualidade técnica e tática, numa partida que teve de tudo um pouco.
É uma vergonha o que aconteceu na Arena Barueri no sábado. Mais vergonhoso ainda é saber que os verdadeiros responsáveis por permitir tamanha barbárie seguirão “trabalhando” com futebol. Talvez seja preciso um desastre como o vivido pelos ingleses em 1985 para o futebol brasileiro aprender. Talvez nem isso seja suficiente.
O único caminho para evoluirmos no futebol do Brasil é passar a tratá-lo como um espetáculo que tem como objetivo entreter as pessoas por meio de um evento de extrema qualidade técnica. Enquanto isso não acontecer, seguiremos a dar tanta importância para o resultado, e não para o espetáculo, que vamos seguir achando normal torcedores armados invadirem o gramado nos jogos em que seus times não estejam com o resultado esperado. Os jogadores de Palmeiras e São Paulo deram um show na Arena Barueri. Pena que dirigentes, policiais e torcedores não sabem qual é o seu papel dentro de um jogo.
A faca da vergonha
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