Clube profissional não é o que corta gastos, mas o que investe no torcedor

Leila Pereira, antes mesmo de completar o primeiro mês na presidência do Palmeiras, tem se mostrado irritada com as cobranças dos torcedores nas redes sociais por contratações estreladas para o clube. Ronaldo, em seu primeiro ato no Cruzeiro, foi duramente cobrado pela torcida por dispensar o goleiro-bandeira Fábio, após 16 anos de serviços prestados e perto de completar mil jogos pelo time celeste.
Como justificativa para tais atos, Palmeiras e Cruzeiro dizem que não vão “cometer loucuras”, e que a primeira preocupação que existe é com a saudabilidade financeira do caixa, mais do que qualquer outra coisa.
Isso leva uma parte das pessoas a defender a tal “profissionalização” do futebol, confundindo corte de gastos com medidas corretas de gestão. É curioso notar que, muitas vezes, quando as empresas de mídia realizam os seus cortes de pessoal, que no jargão jornalístico chamamos de “passaralho”, os jornalistas solidarizam-se com os colegas demitidos e não adotam o discurso da profissionalização, que geralmente é usado pela diretoria do jornal para justificar as demissões.
Esse talvez seja o grande erro cometido atualmente na análise do que o Cruzeiro fez com Fábio e de como o Palmeiras está lidando com a reposição de jogadores. Não, é claro que os clubes estão certíssimos em preservar as finanças e não fazer nenhuma atitude fora de uma lógica financeira.
Mas o que é ser profissional dentro de um clube de futebol?
O Cruzeiro, dado o tamanho de Fábio, tinha totais condições de manter o ídolo sem prejudicar as finanças. Ainda mais tendo como novo dono Ronaldo, que fez um excelente trabalho de marketing junto com o Corinthians em 2009 para jogar pelo clube paulista.
O corte de gastos não é necessariamente sinônimo de profissionalismo de um clube.
Pelo contrário. Um clube profissional sabe como elevar as receitas para manter o ídolo dentro de casa, ou para trazer grandes jogadores. Para isso, porém, é preciso que haja um incansável trabalho de vendas. Tanto para prospectar novos parceiros quanto para preservar os que estão com o clube. Além disso, o departamento de marketing precisa trabalhar para criar iniciativas que gerem receita para a instituição a partir do consumo dos torcedores.
No Brasil, temos muita dificuldade para entender o conceito de profissionalismo no esporte, especialmente na área de marketing. Temos a mania de considerar que o marketing é quem capta patrocínios, e de que o sócio-torcedor é o único meio de o fã consumir o clube.
O profissionalismo de um clube é trabalhar para que o torcedor ajude a pagar as contas, especialmente aquelas relacionadas à manutenção de times vencedores. O Cruzeiro poderia oferecer para Fábio um contrato de trabalho de 12 meses, com um valor fixo mais baixo que o teto do clube, um plano de metas de performance esportiva e outro de performance marqueteira. Fábio, junto com Ronaldo, poderia ser o porta-voz do torcedor cruzeirense, levando-o a consumir encontros com o ídolo, jogo de despedida, programa novo de associação, fan token, etc. O jogador teria uma participação em cada negócio.
No Palmeiras, a maior esperança que a chega de Leila Pereira traz é uma reviravolta no marketing passivo que caracteriza o clube desde 2015. A saída de Roberto Trinas do departamento sinaliza que novos ares podem soprar no Allianz Parque. Até agora, porém, quase nada de novo foi visto. O clube que mais venceu nos últimos cinco anos no futebol brasileiro continua a não fazer nada além de tentar captar torcedores para o Sócio Avanti. Nenhum produto foi lançado, nenhuma ação de relacionamento foi pensada, nenhum jogador é utilizado para realizar uma campanha diferente de engajamento do fã.
O clube será profissional não é o que corta gastos. Isso é o mínimo a ser feito dentro de qualquer ramo de negócio que quer ser saudável financeiramente. O clube é profissional quando cria mecanismos para o torcedor consumi-lo. O maior investimento que precisa ser feito é na paixão do fã.
Clube profissional não é o que corta gastos, mas o que investe no torcedor
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