Futebol é para heteros, lésbicas, gays, bis, travestis e trans. Flamengo sai na frente pela diversidade

Foram dezenas de tentativas de entrevistas. A maior parte negada. Fizemos um texto padrão para convencer quem estava do outro lado do whatsapp, que começava assim: "Oi, estamos fazendo uma série especial sobre LGBTfobia no futebol e gostaríamos de entrevistar fulano a respeito". O sinal de que a mensagem havia sido lida dava até um frio na barriga. Mas o retorno quase sempre era: "o nosso clube, entenda, não é preconceito, mas não vai se manifestar. Você sabe que o meio é muito machista ainda".
Abaixo os links para a série completa.
Como dissemos na série "Futebol Fora do Armário", que termina nesta quarta-feira, Dia do Orgulho LGBT, futebol é muito grande pra ser só de macho. Futebol é um esporte pra quem tem coragem. E até agora, apenas um time teve a bravura de se manifestar em apoio à causa LGBT, o Rio Claro, pequeno clube do interior de São Paulo.
Somos todos! #OrgulhoDeSerRubroNegro pic.twitter.com/AsCToxHmFI
— Flamengo (@Flamengo) 28 de junho de 2017
Nesta quarta-feira, após longas reuniões desde o último domingo, o Flamengo também o fez. Lançou nesta manhã, uma campanha nas redes sociais do clube pedindo respeito às diferenças. Na arte, um jogador se apresenta de costas, vestindo a camisa 12, com a palavra "Diversidade'. Um enorme passo para a discussão do tema, de um time que se identifica como a torcida mais plural do Brasil.
Faltam, no entanto, outras cores nessa campanha. Em conversas com assessores, empresários, jogadores e publicitários durante a produção da série de reportagens, soubemos de clubes nos quais ideias de ações como essa do Flamengo foram levadas para as diretorias, VPs, CEOs desse futebol que se diz moderno, mas o assunto fora engavetado, geralmente depois de longas risadas e interrupções para piadas de arquibancada.
O futebol é mesmo coisa pra macho? Estamos esperando até agora os machos baterem no peito e responderem aos nossos pedidos de entrevista sobre o assunto. "Falar sobre o tema não significa que o jogador ou o dirigente seja gay, ok?", era uma das nossas respostas nas tentativas de demover as inúmeras negativas que tivemos.
A CBF, claro, foi procurada. Disse que não tem nada programado para a data.
João Palomino: O futebol saiu do armário
O STJD foi ouvido na série, disse que espera que os xingamentos homofóbicos sejam relatados em súmula pelos árbitros _ assim como passaram a fazer com o racismo _ para que possa aplicar as sanções previstas no Código Brasileiro de Justiça Desportiva. O órgão precisa ouvir da boca dos juízes que o preconceito existe no futebol. Eu ouço, tu ouves, eles ouvem. Falta o futebol ouvir.
Abaixo, você pode assitir aos três episódios da série "Futebol Fora do Armário":
1º capítulo: A homofobia e a dificuldade de assumir a homossexualidade no vestiário
2º capítulo: Por que os LGBTs continuam fora do estádio?
3º capítulo: Nos campos de pelada, o futebol LBGT já é realidade
Se acima, falamos de quem fugiu do assunto, aqui, queremos deixar nosso agradecimento às centenas de atletas amadores gays, lésbicas, transgêneros, transsexuais, bissexuais, travestis que entrevistamos. Vocês (não é de hoje) são um exemplo de coragem para todos que participaram da produção.
Desejamos vida longa aos Beesccats Soccer Boys, Unicorns, Natus, Sarradas do Brejo F.C, Meninos Bons de Bola, Rosa Negra e tantos outros times LGBTs que conhecemos nessa reportagem.
Agradecimento especial a alguns clubes, como o Santos, que até a TV institucional colocou à disposição para nos auxiliar e facilitou o acesso aos seus jogadores, treinador e à psicóloga do clube, Juliane Fechio.
No Palmeiras, agradecimento especial a Fernando Prass. Com a frieza de quem escolhe um canto no pênalti, ele escolheu falar abertamente sobre o preconceito. Reconheceu que existe, disse que já jogou com atletas gays, não se escondeu da marcação, nem de qualquer pergunta. Flávio Adauto, do Corinthians, também merece nossos cumprimentos ao não se esquivar da responsabilidade na omissão do debate dentro dos clubes.
Alguns jogadores e treinadores, como Thiago, goleiro do Flamengo, Zé Ricardo, técnico, Ricardinho, e Zé Elias, também toparam dar entrevistas mas acabamos não aproveitando por falta de espaço.
A série "Futebol Fora do Armário" foi produzida e executada por:
Produção: Cacau Custódio, Clara Gomes, Rogério Oliveira, Leandro Carrasco
Imagens: Fábio Lonardi, Marcelo D´Sants, Robson Celano, Nelson Batista, Rosemberg Farias, Fábio Barbosa, Nilson Pas, Anderson Hipólito, Cristiano Lopes, Cristóvão Britto e Daniel Lichotti Assistentes: Fernando Cunha, Eduardo Braz, Wilson de Aguiar, Flávio Escobar, Bruno Britto e Sandra Lichotti
Edição: William Zuvela, Leandro Ferreira e Giovanna
Finalização: William Zuvela, Matheus Nora e Alexandre Valim
Coordenação (edição): Bibian Carvalho
Editor-executivo: Conrado Giullieti
Reportagem e texto: Gabriela Moreira Siga @gabi_moreira

Fonte: Gabriela Moreira, blogueira do ESPN.com.br
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