A dura realidade: o que é ser tenista no Brasil
Você, que sonha em ver seu filho em um Grand Slam, um Master 1000 ou Copa Davis, tem noção de onde está se metendo?
Este post não é para desmotivar os pais ou falar mal do tênis. Seria muito burro se o fizesse, mas falar a verdade e direcionar as pessoas que sonham um dia ter seus filhos ou mostrar as dificuldades para a meninada é obrigação dos tenistas, dirigentes e técnicos.
Ao olhar um tenista jogando grandes eventos, muitos fãs do tênis não tem a mínima noção do que é ser tenista no Brasil. Muito se fala em ajuda, se fala em facilidade e até mordomias. Será que ela existe mesmo? Será que ser tenista é tão simples e tranquilo?
Vou me focar em dois pontos. Um, o jogador. Dois, a estrutura.
Começo pelo jogador.
Ser tenista é muito mais que uma grife. Hoje ser tenista é uma profissão. Isso não quer dizer que todo mundo que joga tem que focar o profissionalismo, mas se o desejo for formar um tenista é fundamental que o menino queira muito, mostre no dia a dia que está afim de abdicar de outras coisas boas da vida e viver para o esporte. A partir dos 15 anos não existe mais tempo a perder. Treinar duro, focar na evolução, viver uma vida regrada e trabalhar em todos os fundamentos e lados de uma profissão é fundamental. O tempo é ingrato com o tenista. Por um lado trabalhar duro bem jovem é obrigatório, mas o resultado só virá muitos anos depois.
Mesmo muito jovem o menino tem que querer muito. A conta é clara e dura. O tênis tem que estar na frente dos amigos, das baladas, das gatinhas e do telefone. Ser tenista tem que ser um objetivo claro de vida.
Não preciso dizer que é muito duro chegar. Ser um top 100 do mundo não é para qualquer um. Imaginem que se fazendo tudo certo é difícil, como será dando " migué" no treino, desfilando depois de um jogo ou matando treino porque hoje não estou com vontade de treinar.
Ser tenista é evoluir todo dia. Treinar e não perceber a evolução, mas ter claro que as horas ralando vão fazer diferença. Para ser tenista o diálogo entre jogador, pai e técnico tem que ser bom, ameno e para frente. Sem egos e com um objetivo. O jogador.
Se tudo isso andar direito ainda é uma roleta que tem que cair em um número certo. Difícil, sem nenhuma certeza, mas com muito mais a ganhar que perder.

Difícil viver do tênis. Mais difícil ainda acabar a carreira com um pé de meia, mas possível aos que querem de verdade. Aos meninos e meninas que sonham por eles mesmos e não tampam frustrações dos seus pais.
Ser tenista profissional é querer viver o desafio do impossível virando possível todo dia.
Agora, estrutura.
Se você achou complicado ser tenista no Brasil pelo simples motivo que tem muita gente para pouco espaço quando ler sobre estrutura sua motivação pode aumentar (gosta de desafios) ou desmoronar.
Leio todo dia que a estrutura do tenis brasileiro é muito melhor que no passado. Leio que os tenistas juvenis vivem uma realidade muito legal, que ganham passagem, não pagam treinos e que os pais pagam menos que na minha geração.
Não tenho dúvidas que existe mais dinheiro. Mas olhando sinceramente os juvenis de hoje não vejo nenhuma diferença para nossa geração. É verdade que existe mais organização. Sim. Mas os pais continuam tendo que arcar com 99% do dia a dia dos meninos. Os melhores do país ganham um pouco mais de passagens e viagens aos torneios do que antes. Existem 2 ou 3 centros de treinamentos para os melhores jogadores do Brasil, mas alem disso desculpem... a vida de um pai de um menino evoluindo e que não é o melhor em todas as categorias é de muita despesa e pouca alegria.
Vejo muito pai gastando o que tem e o que não tem para manter seu filho no juvenil. Muitos ainda se iludem que se seu filho for entre os 5 melhores do país vão ter uma ajuda que tirará seu gasto mensal e que a estrutura vai levar seu filho por um caminho certo. Errado.
Hoje o tênis brasileiro é feito e bancado pelos pais dos tenistas. Se você quer que seu filho ou filha jogue tem que ter recurso. Tem que investir pesado. Falo isso com dor no coração. Por que como você que está lendo queria estar vendo uma situação bem melhor.
Hoje o tenis brasileiro vive de centros de treinamentos particulares. Os poucos ou dois ou três centros da CBT estão abarrotados de jogadores como esteve o centro do Larri há anos atrás. Ele tentou com toda força, mas ter 9 dos 10 melhores jogadores do país na sua academia realmente não foi a melhor estratégia. No final, Deu errado.
Ser pai de tenista no Brasil é viver uma grande aventura. Muitos devem estar se perguntando o real motivo da minha coluna hoje. Dizer a verdade doa a quem doer. Mostrar aos pais o que é que eles tem pela frente.
Posso estar desencorajando alguns? Sim. Devo estar. Mas prefiro mostrar a verdade e chamar a atenção para que eles busquem alternativas, ajuda, informação ao invés de entrar de cabeça em um mundo novo sem experiência e que alguns anos depois digam aos seus filhos que não conseguem mais ajudar.
Solução.
Antes de qualquer coisa mostrar aos pais a verdade do esporte. Mostrar aos meninos suas responsabilidades. Depois trabalhar em conjunto e melhorar nossa formação.
Aos que amam o tênis como eu, convido para um debate sincero e aberto. Quem sabe achamos respostas, soluções, saídas e um futuro melhor.
Fonte: Fernando Meligeni, blogueiro do ESPN.com.br
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