A diferença do Corinthians de VP para o Palmeiras de Abel
Vitor Pereira fez o que Abel Ferreira nunca fez. Com apenas dois jogos no comando do Corinthians, o que se viu em campo ontem (12) em Itaquera na goleada de 5 a 0 diante da Ponte Preta, foi um time audacioso, insinuante, corajoso, com fome de gols, coisa que Jorge Jesus, outro português, fez no Flamengo e deixou a nação insaciável.
Não sobrou na boca do corintiano o gostinho do quero mais. Ele se fartou com o futebol ofensivo, cheio de brilho, que finalmente seu time mostrou, um time que tem Renato Augusto, Paulinho e Willian e ótimos coadjuvantes que não vem ao caso mencionar neste momento.
Nas mãos de Sylvinho o time era travado; sob o comando de Fernando Lázaro, burocrático. Com VP, o Corinthians mostrou-se um time cheio de alternativas, que jogou num 4-1-4-1 bem avançado, o que instou Cássio a agir com os pés em algumas situações, situação essa que nunca o deixou confortável, mas que ontem não o deixou aflito (e nem ao torcedor); viu-se também (especialmente no primeiro tempo) um time com várias movimentações que não se via até então, como a constante troca (correta) de passes de modo a desequilibrar a defesa adversária.
Esse foi um dos grandes segredos. O outro (talvez o principal) foi a escalação de Mosquito na direita no lugar de Giuliano.
Com isso, o Corinthians deixou de ser desnivelado, penço para a esquerda (onde fica Willian) e um deserto na direita (onde deveria ficar Giuliano). Com os dois atacantes de beirada, o Corinthians de VP passou a variar seu jogo sem perder a qualidade, uma vez que Mosquito é um ótimo jogador, mas subestimado por muitos. Sua presença em campo, ontem, comprovou isso uma vez mais, pois de seus pés nasceram não apenas um gol (o terceiro), mas também jogadas que enlouqueceram os defensores ponte-pretanos.
Vitor Pereira fez o que Abel Ferreira nunca fez, pois Ferreira é adepto do defensivismo (e não há nada de errado em ser retranqueiro), uma escola que eu não aprecio. Se ele fosse o técnico do Corinthians, ontem, depois que Renato Augusto fez 1 a 0 aos 15 minutos do primeiro tempo, teria mandado seus jogadores recuarem para marcar duramente em seu campo, roubar a bola do adversário e explorar os contra-ataques valendo-se da velocidade de alguns de seus atacantes. Esse Palmeiras vive no risco, pois dá a possibilidade de o adversário o machucar, mas só não o machuca, admito, porque essa retranca é danada de boa (tanto assim que o time só sofreu um gol no Campeonato Paulista até o momento que escrevo este texto). VP, em contrapartida, faz do ataque a sua defesa. A ideia é simples: quanto mais eu tenho a bola, menos o adversário a tem, e quanto menos ele a tem, menos risco de sofrer um gol eu corro.
Essa é a filosofia de Pep Guardiola, por exemplo. O catalão fica contrafeito, incomodado, irritado quando vê a bola nos pés do adversário. Ele exige que seus comandados a tirem do oponente o mais rápido que puder. Era assim no Barcelona e no Bayern, é assim no City. VP é assim também. E isso me agrada. Futebol, para mim, tem que ser jogado desta maneira, pois isso faz o jogo crescer, mudar de patamar. A retranca é burra no sentido de que estaciona o futebol e não o deixa flertar com o novo, com a criatividade ofensiva (que exige mais intelecto do que a defensiva), que embeleza o jogo e cativa o torcedor.
Os resultados obtidos por Abel Ferreira são ótimos. Ninguém discute. Mas eu não estou analisando resultados, estou analisando o futebol jogado. E o futebol jogado pelo Palmeiras é feio, pobre, rococó. É o chamado mais do mesmo. O que o Corinthians mostrou na goleada de ontem foi um estilo de jogo que se aproxima do estilo de Guardiola, de Klopp, de Jesus e também de Jorge Sampaoli no Santos. Time posicionado no campo de ataque a maior parte do tempo, alugando a metade da cancha adversária, provocando êxtase e não apreensão em seus torcedores (sim, pois o time está sempre pronto para finalizar e marcar e não a se defender e evitar o gol adversário). Os adeptos desses times ficam sempre na expectativa de que outro gol pode sair — como saíram ontem em Itaquera.
Vai ser sempre assim? Só o tempo dirá se o que se viu ontem será uma constante ou um ponto fora da curva. Espero que a primeira alternativa seja a correta, pois, se isso se confirmar, teremos um Corinthians supercompetitivo e que estará sempre brigando por coisas grandes. E se isso acontecer, quando o final do ano chegar, VP terá seguramente seu contrato renovado e Adenor Bachi, o Tite, irá aportar em outras plagas, porque, infelizmente, tem muita gente que olha apenas para o resultado e não para o futebol jogado.
Quinta-feira (17) teremos o encontro entre esses dois diferentes portugueses. Palmeiras x Corinthians no Allianz Parque. Um jogão, que deve parar o país. Mas não se esqueçam de uma coisa: o Palmeiras de Abel é um time pronto, que joga junto há um ano e meio; o Corinthians de VP está sendo montado e que tem menos de um mês de trabalho de campo.

A diferença do Corinthians de VP para o Palmeiras de Abel
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