Você sabia que o futebol americano é “filho” do rúgbi e “neto” do futebol da bola redonda? E que quase foi proibido pelo presidente dos EUA em 1905?
Você sabia que o futebol americano é “filho” do rúgbi e “neto” do futebol da bola redonda? E que quase foi proibido pelo presidente dos EUA em 1905?
A brincadeira de chutar uma bola existe desde os tempos da Roma Antiga, em diversos lugares do mundo. Mas foi só no começo do século 19 que ela começou a se transformar em um esporte organizado. Jovens das escolas inglesas praticavam uma modalidade em que o objetivo era chutar a bola entre duas estacas fincadas no chão. São de 1805 os registros mais antigos da palavra football para descrevê-la.
Cada escola jogava futebol de um
jeito, com números de jogadores
diferentes e às vezes até sem goleiro.
Foi então que em 1823, na cidade
de Rugby, um garoto de 17 anos
chamado William Webb Ellis decidiu
pegar a bola com as mãos e correr
em direção ao gol. Os colegas
gostaram da ideia e estabeleceram
uma nova regra, permitindo carregar
a bola além de chutar. Assim surgia
o rugby football.
Em meados do século 19, os jovens americanos de famílias ricas que iam à Inglaterra estudar voltavam de lá jogando dois esportes: o association football (ou só “futebol”, jogado com os pés e com a bola redonda) e o rugby football (que permitia usar as mãos, adotando uma bola oval). Os dois esportes se espalharam pelas escolas, universidades e clubes americanos.
Representantes das universidades
de Harvard, Princeton e Columbia
padronizaram o “American football”.
Atleta e jornalista, Walter Camp criou
a regra dos downs: toda vez que
o atleta de posse da bola fosse
derrubado, o juiz interromperia o jogo
para que os times se realinhassem
e reiniciassem a partida em uma nova
jogada (down). O time tinha três
chances para avançar pelo menos
cinco jardas (hoje são 4 chances
para 10 jardas). Se não conseguisse,
entregava a bola ao adversário.
No começo, o futebol americano era puramente corridas ou passes laterais,
concentrando os jogadores em uma pequena faixa do campo. Sem equipamentos
ou regras de proteção, o esporte causou lesões graves e a morte de 18 jogadores
universitários em 1905. O presidente Theodore Roosevelt ameaçou proibir
a modalidade e foram feitas várias mudanças para torná-lo mais seguro, incluindo
aquela que o transformaria para sempre: o forward pass - passe para frente,
uma ideia do treinador John Heisman.
As mudanças nas regras ganharam o público. Os jogos se tornaram mais dinâmicos, com jogadores bem distribuídos em campo, passes e avanços rápidos. A popularidade levou à criação da American Professional Football Conference, em 1920, que virou National Football League (NFL), em 1922.
Apenas duas equipes fundadoras ainda participam da NFL: Chicago Cardinals (Arizona Cardinals)
e o Decatur Staleys (Chicago Bears). As primeiras temporadas foram turbulentas, com times aparecendo e sumindo de um ano para outro, falta de dinheiro e improvisos. O ponto mais baixo
foi a final de 1932, quando Chicago Cardinals e Portsmouth Spartans (atual Detroit Lions) foram obrigados a jogar dentro de uma arena de circo em um campo com apenas 80 jardas, coberto
de feno e fezes de elefante.
Diante de tamanho fiasco, a NFL endureceu a administração. Times pequenos desapareceram e surgiram grandes equipes, como Philadelphia Eagles, Pittsburgh Pirates (Pittsburgh Steelers), Boston Braves (Washington Redskins) e Cleveland Rams (St. Louis Rams).
Atendendo a pedidos dos atletas e visando melhorar o jogo aéreo, a NFL adotou uma nova bola, menor e mais pontuda. A partir de 1936, teve início o draft universitário, recrutamento que é até hoje a base de formação de atletas da liga. Todas as 10 equipes vinculadas à NFL tinham que aguardar o jogador ter pelo menos 4 anos de estudo e obedecer a ordem de escolha da pior campanha para a melhor, favorecendo o equilíbrio da liga.
Com a entrada dos EUA na II Guerra Mundial em 1942, grandes mudanças aconteceram também no futebol americano. Mais de 600 jogadores deixaram seus clubes para lutar na guerra, e algumas equipes foram obrigadas a se unir para não encerrarem atividades, como Steelers e Eagles, que disputaram a temporada de 1943 como “Steagles”
Até então, os 11 jogadores em campo faziam a função de ataque e defesa. Atendendo a pedidos, a NFL alterou suas regras para que as equipes pudessem fazer substituições ilimitadas. Surgia aí os times de ataque e defesa, com o jogador tendo que se especializar em apenas uma função e poupando tempo de treinamento. Essa mudança se tornou definitiva em 1950.
Na briga pela audiência com o beisebol, até então o esporte favorito dos Estados Unidos,
a NFL começou a virar o jogo com o apoio da televisão, que transmitia as partidas para todo
o país. Grandes nomes como Paul Brown, criador do Cleveland Browns, e o quarterback
Johnny Unitas surgiram para entrar para história.
O ápice veio com a final do campeonato de 1958, quando na prorrogação o Baltimore Colts
venceu o New York Giants por 23 a 17. O jogo quebrou recordes da televisão americana,
com 45 milhões de espectadores (1 em cada 4 pessoas nos EUA). É conhecido até hoje
como “O maior jogo de todos os tempos”.
Após o grande boom da década de 1950, novos times surgiram e queriam ser aceitos na NFL, mas a liga os recusou. Foi criada, então, a American Football League, cujos membros são boa parte das equipes hoje na AFC.
Única rival a ter sucesso contra o poder da NFL, a AFL foi responsável por inovações como a conversão de dois pontos e o marketing com nomes de atletas em camisas. Grandes nomes da liga foram Joe Namath (quarterback do New York Jets), George Blanda (quarterback e chutador de Oilers e Raiders) e Len Dawson (quarterback do Kansas City Chiefs).
Após alguns anos de rivalidade, AFL e NFL acertaram uma trégua iniciada com a criação do Super Bowl, jogo disputado em campo neutro entre o campeão da AFL e da NFL para definir o campeão nacional. Em sua primeira edição, o Green Bay Packers (NFL) venceu o Kansas City Chiefs (AFL) por 35 a 10, no dia 15 de janeiro de 1967, em Los Angeles.
Em 1969, a Harris and Associates (principal instituto de opinião pública especializado em esportes) fez uma pesquisa e pela primeira vez na história a NFL vencia o beisebol no coração do povo americano.
A unificação total aconteceu em 1970, quando os 10 times da AFL se reuniram aos 16 da NFL. Além do Super Bowl, os times das duas ligas agora jogavam entre si durante a temporada. A audiência televisiva dobrou e o futebol americano se firmou como o esporte favorito dos americanos.
Após dominar a década de 1960, o Green Bay Packers abriu espaço para as novas dinastias: Steelers, nos anos 1970, 49ers, nos anos 1980, e Dallas Cowboys, nos anos 1990.
Liderados pela defesa da steel curtain (“cortina de aço”), o Pittsburgh Steelers foi quatro vezes campeão entre 1975 e 1980. Entre 1981 e 1989, foi a vez do San Francisco 49ers de Joe Montana vencer quatro Super Bowls, e o Dallas Cowboys, liderado por Troy Aikman, ficou com três títulos entre 1992 e 1995.
Fora do campo, a NFL criou o Monday Night Football, horário mais valorizado da televisão por assinatura atualmente. O canal ABC inovou também com a colocação de câmeras e repórteres em campo, além de replays e infográficos.
Com o objetivo de aumentar ainda mais a exposição que o Super Bowl recebia da mídia, a partir de 1993 o evento foi transformado em um grande show, com a participação de grandes artistas. O primeiro convidado foi Michael Jackson e, desde então, já tivemos U2, Aerosmith, The Who, Bruce Springsteen e Prince, entre outros.
Na última década uma nova dinastia surgiu. Capitaneado pelo quarterback, Tom Brady, o New England Patriots venceu três campeonatos. Com um forte jogo aéreo, o Patriots representa ao lado do Indianapolis Colts, de Peyton Manning, e do New Orleans Saints, de Drew Brees, os grandes ataques da década, todos vencedores do Super Bowl.
Mas o futebol defensivo também teve seus momentos, com os Super Bowls do Baltimore Ravens, do linebacker Ray Lewis, o New York Giants, do defensive end Michael Strahan, e o Pittsburgh Steelers, do safety Troy Polamalu.
De olho na expansão de seus domínios e popularidade fora dos EUA, desde 2007 a NFL organiza pelo menos uma partida por temporada no estádio de Wembley, em Londres. O Buffalo Bills joga no Canadá e a liga planeja partidas na Alemanha, Japão e Austrália.
Com quase 200 milhões de espectadores no mundo todo, o Super Bowl só perde em audiência para a final da UEFA Champions League. Em compensação, tem o espaço publicitário mais caro do mundo, com marcas que chegam a pagar US$ 3 milhões por anúncio.