1972 - A quinta olimpíada que não veio, o foco nos estudos e um arrependimento

Como já disse em texto anterior, fui convocado pelo técnico Kanela para participar dos Jogos Olímpicos de Munique, na Alemanha. Antes da convocação, ele entrou em contato comigo me oferecendo uma vaga na sua seleção, só que dessa vez como atleta e assistente técnico.
É claro que me senti honrado com o convite, com 35 anos, essa seria a minha quinta participação olímpica como atleta. De pronto aceitei, achei que o convite era uma oportunidade de poder evoluir meus conhecimentos como técnico. Pensava também no meu futuro.
Naquele momento, a notícia pareceu estranha na mídia desportiva, era a primeira vez que isso acontecia no basquete brasileiro, um atleta ser assistente do técnico principal. Devo lembrar que, em 1972, eu já me encontrava no segundo ano da faculdade. Esse fato mexeu com minha cabeça.
No dia da apresentação eu estava presente. Confesso que tudo me pareceu estranho, tudo muito diferente das outras vezes, quando fui apenas convocado para ser atleta. Interessante que, naquele momento tudo, o que eu dizia para os atletas, eu também dizia para mim mesmo.
Os treinos começaram e eu, além de comandar os trabalhos técnicos e táticos ao lado do Kanela, também executava todas as suas ordens. Na verdade, o Kanela queria ter ao seu lado um remanescente das suas conquistas passadas, até porque eu seria uma espécie de exemplo.
Eu era o capitão e seu representante dentro da quadra. A força que eu possuía junto aos jogadores facilitava muito o seu trabalho. Eu era ali uma pessoa muito respeitada pelo passado vitorioso. Isso eu percebi desde o começo dos trabalhos, onde eu seria uma espécie de para-raios.
Fiquei uma semana concentrado nos treinamentos sem esquecer que eu estava cursando a faculdade de educação física no segundo ano, e que eu havia deixado de lado. Estava perdendo muitas aulas e, na minha cabeça, me sentia em falta com as minhas aspirações futuras.
Meditei muito à respeito desse assunto. Comecei a pensar em desistir da minha quinta participação olímpica em troca da minha carreira de professor. Dito e feito, resolvi pedir dispensa da seleção, embora o técnico Kanela não tivesse aceitado o meu pedido. Os atletas também não aceitavam.
Mas não houve jeito, eu estava decidido não abrir mão dos meus estudos, naquele momento nada era mais importante. Foi uma decisão sentida, mas, na minha cabeça, os estudos eram prioridade. A partir dali, voltei para casa certo do dever cumprido, mas hoje me arrependo.
1972 - A quinta olimpíada que não veio, o foco nos estudos e um arrependimento
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