Conheça a trajetória da primeira fisiculturista brasileira a representar o Brasil no Pan de Lima

Carla Lobo já encarou muito risinho disfarçado quando contava que seu esporte é o fisiculturismo. Nada que tirasse a sua motivação para seguir em frente. Três anos depois de começar a praticar o esporte, ela vai buscar uma medalha nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru. Aos 48 anos, a atleta será a primeira representante do Brasil na modalidade, que passará a integrar o campeonato pela primeira vez.
A história de Carla ganha um sabor ainda mais diferenciado quando percorremos a trajetória dela e vemos que ela começou no balé, passou pela ginástica olímpica, aeróbica e maratona antes de descobrir seu verdadeiro esporte, aos 45 anos, depois de ser mãe três vezes.
Carla decidiu virar fisiculturista porque estava insatisfeita com seu corpo. “Eu queria mudar meu ‘shape’, não estava satisfeita com a minha forma física, apesar da grande bagagem no esporte. Comecei uma dieta em 2015 e desde então me apeguei ao esporte e nunca mais larguei. Todos os esportes que pratiquei na vida foram importantes nas suas determinadas fases, mas o fisiculturismo me completa”, disse a atleta.
Mãe de três filhos, Luca (20), Felipe (18) e Pedro (11), a gaúcha de Porto Alegre tem uma rotina bastante agitada. Ela é formada em Educação Física e atualmente dá em média de sete a oito aulas como personal trainer por dia. Junto com esses compromissos, a atleta segue uma dieta rígida acompanhada por um nutricionista e uma rotina diária de treinos puxados. Mas garante que isso não a atrapalha na função “mãe”.
“Hoje eu já tenho 28 anos de formada na área, então consegui administrar isso, achar o equilíbrio entre a minha profissão e a carreira de atleta. E ao mesmo tempo ser dona de casa, ser mãe, dar exemplo, ter os meus alunos de personal... Isso no começo foi muito difícil, e hoje eu cheguei em um equilíbrio de emoções. Temos que tomar cuidado para não nos perdermos e não sermos somente atletas, somente 'profissão' ou somente mãe, temos que ser tudo. Meus filhos estão maiores, e isso me possibilita contar com apoio, ajuda e incentivo deles”, disse a atleta.

Carla Lobo é atleta da IFBB-BRASIL (Federação Internacional de Musculação e Fitness) no Brasil, e atualmente é vinculada à IFBB-DF, em Brasília, onde reside. Apesar de estar somente há três anos no esporte, a atleta já participou de onze competições, conquistando nove títulos. Dentre eles, foi campeã brasiliense, vice-campeã brasileira, conquistou a medalha de bronze no Campeonato Sul-Americano em Assunção, no Paraguai, e também obteve a mesma colocação no campeonato Pan-Americano na Guatemala. Todos esses em 2018 – marcas que a fizeram conquistar a vaga para os Jogos Pan-Americanos de Lima nesse ano.
Em julho, no Pan-Americano, Carla Lobo disputará na categoria “Fitness Coreográfico”, em que faz duas apresentações. Na primeira, ela faz uma coreografia, em que os jurados avaliam força, flexibilidade, desenvoltura no palco, carisma, música, ritmo etc. E na segunda é avaliado somente o ‘shape’. Ela garante que está muito preparada para isso, pois diz que tem o perfil ideal para essa categoria.
“A minha categoria é a que veio resgatar toda a minha vida, de todos os outros esportes que eu passei: dança, ginastica olímpica, aeróbica e as maratonas. Cada esporte deu a essência do que sou hoje, e agora consegui reunir tudo numa categoria que amo de paixão. O fitness coreográfico é a ‘Carlinha’. A Carla ‘pessoa’ é o fisiculturismo, e o fisiculturismo é tudo o que eu sempre sonhei na minha vida.”

Preconceito na profissão
A atleta disse que sofreu bastante preconceito quando decidiu tornar-se fisiculturista. “Sofri muito preconceito por conta da idade, preconceito principalmente com o esporte. Por ser um esporte em que ainda há muito preconceito, as pessoas achavam no começo que eu ia ficar com o ‘shape’ masculinizado. No fisiculturismo nós passamos por ‘dois corpos’. No ‘off season’ ficamos com um corpo mais denso, com mais volume muscular, e o shape de competição, o ‘pré-contest’, é mais musculoso e definido porque diminuímos a quantidade de carboidrato, de calorias etc. E as pessoas ficam desse jeito porque é tudo muito diferente, nos transformamos muito rápido”, contou.
Mas isso não abalou a atleta, que diz já ter conquistado seu respeito e que tornar-se fisiculturista foi uma das melhores escolhas que tomou na vida. “Fisiculturismo é a essência do meu ‘eu’. É um esporte que me deu autoconhecimento, a auto superação, o equilíbrio. É o que me move, o que amo fazer. Fisiculturismo para mim é a superação diária, você não ter rivalidade com outro atleta é você se superar. Quando subo no palco, me transformo, e essa sou eu”, disse.
Fisiculturismo nas Olimpíadas?
O fisiculturismo ainda não está dentro das modalidades das Olimpíadas, mas Carla diz que falta pouco para que isso de fato aconteça. “Falta pouco para o esporte fazer parte das Olimpíadas. Um esporte para entrar na Olimpíada não depende somente do atleta, e sim de toda a burocracia que existe no esporte, de todas as questões envolvidas, então esperamos fazer o melhor para podermos estar nas Olimpíadas e eu acredito que isso vá acontecer.”
“O fisiculturismo é um esporte que você carrega no corpo. Onde você estiver o seu corpo é a porta de entrada, todos sabem que você é atleta, as pessoas te respeitam por isso.”

Fisiculturismo estreia no Pan pela primeira vez na história
Essa será a primeira vez na história que o Fisiculturismo participará como esporte oficial no principal evento olímpico das Américas. O presidente da IFBB Brasil, Prof. Mauricio de Arruda Campos, disse que essa conquista foi bastante merecida por toda a luta que durou anos.
“Essa conquista foi fruto de um trabalho realizado pela International Federation of Bodybuilding & Fitness (IFBB), cuja sede fica em Madri, na Espanha, e seu presidente é o espanhol doutor Rafael Santonja. Durante os últimos 10 anos a IFBB realizou grandes mudanças no esporte, o que possibilitou a real possibilidade de se conseguir chegar a um nível de performance atlética e ganhar uma competição sem o uso de substâncias proibidas, o que era um problema no passado”, diz Maurício, que também é diretor da Comissão Antidoping da IFBB Internacional para os 199 países afiliados.
O Fisiculturismo já é reconhecido e participou em duas edições dos Jogos Olímpicos de Praia da Ásia (Asian Beach Games), onde todos os atletas foram testados antes de saírem de seus países e durante os eventos, com zero casos positivos. De acordo com Maurício, isso contribuiu muito para que o Comitê Olímpico Internacional começasse a olhar para o esporte com outros olhos.
“Esse processo de reconhecimento pela ODEPA (Organização Desportiva Pan-americana) foi resultado de anos de muito trabalho, das mudanças ocorridas nas regras e criação de novas categorias, da educação dos atletas sobre os riscos de utilização de substâncias proibidas no esporte e principalmente por sermos signatários do Código Mundial Antidoping e termos nossas regras e procedimentos antidoping de acordo com o determinado pela Agência Mundial Antidoping (WADA), como ocorre com os outros esportes que já fazem parte do programa olímpico.“
Além de Carla Lobo, o Brasil terá outro representante nos Jogos Pan-Americanos de Lima, o atleta Juscelino Santos, de São Paulo, na categoria Classic Bodybuilding.
Fonte: Marília Galvão
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