Não vou dar “spoiler” e nem exaltar as falcatruas do personagem folclórico e fora da lei Castor de Andrade.
O saudoso “capo” carioca, que comandou por anos o clube de futebol Bangu, foi o dono do Jogo do Bicho no Rio de Janeiro, patrono da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel, responsável pela transformação do carnaval carioca e do crime organizado.
O ótimo documentário “Doutor Castor”, exibido em quatro episódios no Globoplay, é uma aula de como a contravenção pode interferir no futebol de forma desastrosa.
A bandeira alvirrubra do Bangu
Site oficial do Clube
Durante quase três décadas, o Doutor Castor de Andrade, advogado de formação, injetou dinheiro ilícito e transformou o Bangu Atlético Clube em uma quase potência do futebol brasileiro.
É nesse ponto que quero chegar. O “dono” do clube fundado oficialmente, em 1904, no bairro de Bangu, no Rio de Janeiro, tinha uma maneira bem diferente de gerir o futebol.
O “bon-vivant”, carismático e perigoso Castor de Andrade comprava a tudo e a todos com dinheiro vivo.
Contratava jogador pessoalmente com uma mala cheia de dinheiro, pagava uma grana alta pelas vitórias do time, o famoso “bicho” e até os gols bonitos em treinos.
Era um paizão para o elenco do clube e sempre ajudava com uma grana extra para quem precisava.
Na gestão de Castor, os jogadores recebiam o salário na tesouraria. Nada de cheque! Era uma nota em cima da outra.
Os atletas no início estranhavam, mas gostavam de pegar a grana viva no caixa. Assalto? Quem ousaria roubar algum jogador do Bangu de Castor? Só um louco!
O cartola cheio da grana tinha o dom de cativar as pessoas, de comandar treinos do time e de escalar os 11 titulares.
Era considerado um Deus por torcedores, jogadores e venerado no bairro de Bangu. Um cara bom de oratória. Uma celebridade que circulava pela alta sociedade carioca e adorava aparecer em entrevistas.
Porém, o seu poder corrompia árbitros, dirigentes e o que fosse preciso para que o Bangu se desse bem.
Colocar um buffet com bebidas no vestiário da arbitragem, no estádio de Moça Bonita. Bater na porta do vestiário do juiz com uma arma à vista para dar boas-vindas. Invadir o gramado para pressionar um árbitro. Tudo isso facilitava o jogo para o time da casa.
Essas histórias verdadeiras e mostradas no documentário chegam a ser engraçadas.
Mas o fato é que esse amadorismo movido a milhões de dólares da contravenção, do mesmo jeito que ergueu o Bangu, acabou colocando o clube no ostracismo com a morte de Castor de Andrade, em 1991.
Rever cenas da final da Taça de Ouro, o Campeonato Brasileiro de 1985, entre Bangu e Coritiba, trouxe boas recordações.
Um jogo inesquecível com o Maracanã lotado, 91 mil pessoas, e torcedores de vários clubes cariocas apoiando o pequeno time vermelho e branco.
Um dia triste para o tradicional clube carioca que perdeu o título nos pênaltis (6 a 5), depois de sair perdendo no tempo normal e empatar o jogo com gol de Lulinha.
Naquele 31 de julho, o Bangu massacrou o Coritiba com o goleiro Rafael salvando o time paranaense. A decisão por penalidades foi injusta. Coisas do futebol.
Esse foi o grande momento na história do clube que ainda disputou a Libertadores do ano seguinte, sem sucesso. A gestão amadora do clube não aguentou uma competição internacional. Faltou seriedade e organização.
O Bangu possui quarenta e quatro troféus de campeão e mais dezenove de vice-campeão no futebol profissional em geral, sendo treze títulos internacionais, dois deles oficiais. É o décimo segundo clube brasileiro com mais partidas internacionais.
Um clube pioneiro no futebol brasileiro. Foi o primeiro do Rio de Janeiro a escalar um atleta negro. Francisco Carregal foi escalado em 1905. O feito rendeu a Medalha Tiradentes ao Bangu. Foi também o primeiro participante do Campeonato Carioca, em 1906. Apenas Fluminense, Botafogo e Bangu são os clubes em atividade que participaram desse campeonato. E o primeiro clube do Brasil a ter centro de treinamento, em 1921. Histórias não faltam!
O Bangu era um timaço! Jogava de igual para igual contra os quatro grandes clubes do futebol carioca. Nos áureos tempos da década de 1980, Gilmar, ex-Palmeiras, era o goleiro. Mauro Galvão foi o Zagueiro. Marinho, Ado, Arturzinho e Claudio Adão os homens-gol. Poucos times tinham jogadores como o Bangu.
Antes da morte de Castor de Andrade, o foco e dedicação do doutor estava no carnaval. Ele ficou desgostoso com a falta de títulos no futebol. A escola de samba deu o que ele precisava: fama, mais dinheiro e uma ligação mais próxima com a elite.
Sem dinheiro e alguém para bancar o clube, a queda foi tão rápida como o apogeu. Hoje, o Bangu é um clube perdido nas histórias do passado.
Talvez, nunca mais, o time alvirrubro chegue a uma final de Campeonato Brasileiro. Sonhar é sempre possível!
O clube que tem um castor como mascote sobrevive das belas histórias muito bem contadas pelo diretor Marco Antônio Araújo.
Se eu fosse você não deixaria de ver esse documentário. Para os mais novos, oportunidade de conhecer uma época diferente onde os jornalistas entravam no vestiário e no campo de treinamento para entrevistar jogadores, técnicos e dirigentes.
Era ali que as boas histórias surgiam!
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